Phellyx: de Mogi para 190 países
Ver a atriz Larissa Manoela fazendo o papel de uma jovem viciada em celular, que aprende como é a vida offline ao lado do avô, interpretado por Erasmo Carlos, não é o único motivo para ver ‘Modo Avião’, comédia adolescente lançada pela Netflix no final de janeiro. Isso porque um dos personagens mais interessantes e […]
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Reportagem de: O Diário
Ver a atriz Larissa Manoela fazendo o papel de uma jovem viciada em celular, que aprende como é a vida offline ao lado do avô, interpretado por Erasmo Carlos, não é o único motivo para ver ‘Modo Avião’, comédia adolescente lançada pela Netflix no final de janeiro. Isso porque um dos personagens mais interessantes e engraçados da trama é vivido por um mogiano, Felipe Gustavo, mais conhecido como Phellyx.
Phellyx é, na verdade, criador de conteúdo e humorista. Desde 2015 está no YouTube, e foi lá que fez sucesso, o que possibilitou o convite para, entre outros projetos, este longa-metragem. A maioria dos vídeos postados por ele são curtos, mas os poucos minutos de duração são suficientes para fazer o público rir.
É que o espírito do mogiano, mesmo antes de criar o personagem Phellyx, é leve, de encarar a vida com tranquilidade e bom humor. Nascido e criado no Parque Olímpico e mais tarde morador do Conjunto do Bosque, começou a trabalhar aos 13 anos, numa academia, e certo dia decidiu publicar uma gravação de si próprio “comendo uma pizza com borda de cheddar”, como se lembra agora, cinco anos depois.
Passado algum tempo, saiu da casa da mãe, que também é mogiana, e continuou com as postagens. “Queria ser um artista reconhecido nacionalmente, mas estava morando de favor”, ele conta. A solução foi procurar um emprego. Só que “ninguém abriu as portas”, a não ser um McDonald’s, no centro de São Paulo.
O rapaz trabalhou por nove meses na rede de fast food. E quando saiu decidiu contar em vídeo como era suas funções. No material publicado em abril 2017, e que conta com quase um milhão de visualizações, Phellyx revela, de modo engraçado, como era servir bebidas, fritar batatas e atender no caixa, registrando e cobrando os pedidos.
Até aí, nenhum retorno além de cliques, comentários e compartilhamentos. Mas tudo mudou quando a agência de marketing do McDonald’s entrou em contato com o mogiano, convidando-o para fazer um teste para uma campanha publicitária.
Como já tinha experiência de causa, Phellyx escreveu um roteiro e foi para o teste. Com o nome ‘Portas Abertas’, a campanha foi aprovada na hora, do jeito que estava, mostrando os bastidores dos restaurantes. O resultado? Um “boom” nas redes sociais.
Orgulhoso, Phellyx diz que o Facebook classificou o vídeo como “recorde nacional” de audiência. Como consequência, ele se tornou um embaixador da marca, o que “representou muita coisa”, porque naquela época ele afirma que “não tinha conhecimento do meio artístico, não tinha noção ou assessoria”.
É claro que isso mudou desde então. Mais estruturado, atuou como repórter na MTV, entrevistando vários artistas, se arriscou a fazer um show de stand-up e continuou com os vídeos de humor na internet.
Entre um trabalho e outro, conheceu o diretor César Rodrigues, que o chamou para uma participação no programa ‘Os Roni’, seriado de humor da Multishow estrelado por Carlinhos Maia, Tirullipa e Whindersson Nunes.
“Ele (César) falou muito bem da campanha do McDonald’s, disse que eu era um artista e que não se esqueceria de mim”, recorda-se Phellyx. E como promessa é dívida, quando o diretor se envolveu com a produção estrelada por Larissa Manoela, lembrou logo do mogiano ao ler o perfil de Fausto, personagem que ele veio a interpretar.
Fausto é o grande aliado de Carola, vivida por Katiuscia Canoro. Atua como uma espécie de vilão para a trama, mas de modo leve e descontraído, com tiradas inteligentes e bem-humoradas. Mesmo sem curso de teatro ou técnicas de atuação, Phellyx mandou bem.
Sobre a experiência, num primeiro momento ele diz que foi “assustador”. “Tudo foi muito difícil para mim, que não estudei como eles. Passar o texto era complicado, porque eu não entendia se eu personagem tinha que estar feliz ou triste”. Assim como no filme, quem o ajudou foi Katiucha, a quem ele “deve muito” e considera “uma mentora e amiga”.
Fato é que, aos 27 anos e de origem humilde, Phellyx pode, agora, ser visto por 190 países na Netflix. E ele sabe a importância disso. “Sei de onde vim, o que passei. Minha casa alagava muito, perdíamos os móveis e a comida. Minha mãe foi mãe e pai, e passamos por muita coisa difícil, uma infância traumática”.
O cenário é diferente hoje, quando ele admite ser parado na rua com frequência para tirar fotos. Mas o sucesso não o faz esquecer de quem é. Simples. Negro. Homossexual. “Por muito tempo tive que viver uma vida hétero, para provar algo para minha mãe, e quando fui recorde nacional todos tiveram que aturar minha cara preta”.
Solteiro e prestes a se mudar para São Paulo, ele pretende neste 2020 fazer cursos para técnicas de atuação. Também prevê mais vídeos para o YouTube, como paródias e ainda “outros planos”, como projetos publicitários que por enquanto seguem em segredo.