Sesc Mogi inclui artistas locais na agenda de atividades culturais
Inaugurada no início deste mês, a unidade provisória do Sesc Mogi deu fôlego para áreas como cultura, lazer, esportes e educação da cidade. A agenda do espaço inclui programação de atividades físicas e culturais, formada por espetáculos, mostras, oficinas e apresentações variadas. Embora muitos nomes de fora integrem a programação, já existem artistas e educadores […]
Reportagem de: O Diário
Inaugurada no início deste mês, a unidade provisória do Sesc Mogi deu fôlego para áreas como cultura, lazer, esportes e educação da cidade. A agenda do espaço inclui programação de atividades físicas e culturais, formada por espetáculos, mostras, oficinas e apresentações variadas. Embora muitos nomes de fora integrem a programação, já existem artistas e educadores de Mogi trabalhando no endereço. É o que O Diário mostra nesta reportagem.
Exemplos são as artistas Lígia do Céu e Sarah Key, mogianas que participaram da pintura de um mural da série ‘Vazante’. O resultado já pode ser visto, próximo ao campo de futebol.
Também já podem ser vistas e ouvidas a fotógrafa Beatriz Ataídio, a educadora Mariana da Matta, o artista Lucas Bandeira e outros nomes cujos trabalhos são apresentados nestas páginas.
Antes de seguir, porém, merece destaque a arte da professora e ilustradora Amanda Esteves, do @atelie.anu. Conhecida pelas ilustrações dos livros infantis ‘Pássaro Azul’ e ‘Isidoro e os Barcos’, ela foi contratada para fazer murais no Centro de Educação Ambiental (CEA), espaço educativo que fica no quiosque, na área externa.
“O primeiro mural tem o objetivo de trabalhar a linha do tempo, contando a história da cidade de Mogi, mas por meio do desenho, então não tem palavras. E o segundo, que está para ser feito, engloba o que é educação ambiental e as potencialidades da cidade e região”.
Ela prepara também outros materiais, como “ilustrações em cards educativos” que serão utilizados no CEA. Haverá desenhos de “aves, plantas, permacultura e educação ambiental” e ainda mapas da cidade.
Para Amanda, trabalhar no Sesc Mogi é motivo de celebração. “O Sesc vem a colaborar muito com a cultura e traz questões importantes, de artistas e na área de esporte e ambiental. Eles estão sendo bem acolhedores e interessados em saber os artistas que produzem e o que tem no município”.
Um novo espaço, muito mais mogiano
Mulher indígena em retomada de identidade e em contexto urbano, MC no movimento hip hop, brincante e pesquisadora de culturas tradicionais, empreendedora e artista visual de Mogi, Sarah Key soube da convocatória para participar da pintura de um mural do Sesc “através de uma mensagem do ex-secretário municipal de Cultura”. No texto, ele informava que a entidade havia convidado alguém para fazer o mural e que essa pessoa faria uma curadoria para contratar nomes locais para ajudar.
“Enviei o material totalmente despretensiosa e fui bem franca em relação a minha não-experiência no muro, tanto que enviei somente as ilustrações da minha marca – @passarah. Quando fui selecionada fiquei surpresa, honrosa e preocupada”, conta ela, que compartilhou o processo seletivo nas redes sociais.
Ao ver os “stories” de Sarah, uma amiga dela e também artista decidiu se inscrever e passou. Essa amiga é Lígia do Céu, artista visual, arte-educadora e bacharelanda em Artes Visuais pela Centro Universitário Belas Artes.
“A gente é amiga, mas não combinamos isso. Achei que não ia passar, mural não é muito minha área. Mas acabou que fui selecionada. Quando entrei em uma reunião online, vi que a Sarah estava lá. Somos irmãs de Orixá, frequentamos a mesma comunidade religiosa”, conta Lígia.
A dupla então se uniu à proponente, Sheila Ayo. Ao ser contratada pelo Sesc para fazer uma intervenção artística em Mogi, ela, que é de Santo André, decidiu incentivar a cultura local e passou a procurar por mulheres que a auxiliassem no trabalho de pintura de um muro com mais de 10 metros de comprimento.
O resultado já pode ser visto na recém-inaugurada unidade provisória do Sesc Mogi, no Socorro. “Nas linhas tortuosas de Vazante aparecem fluxos delineados pelas formas fluidas da água. A representação desse elemento, primordial à vida, vincula-se a sabedorias ancestrais, relacionadas a experiências pessoais e religiosas”, explica a autora da obra.
“Convidada para pintar o maior mural do Sesc, para ela não fazia sentido realizar essa obra sozinha. Ela poderia, mas não quis, e não porque não desse conta, mas sim porque achou sensato convidar artistas locais pra dividir esse espaço de parede tão requisitado, e assim foi”, diz Sarah.
Em três dias de trabalho, ela e Lígia deixaram algumas das primeiras marcas da arte mogiana no espaço. Sim, algumas das primeiras, mas longe de serem as últimas.
Tanto é que, nas duas semanas iniciais de atividades do Sesc, Lígia do Céu protagonizou, com outro artista local, Lucas Bandeira, oficinas de “pintura de observação”, intervenção artística que “propõe reconhecer o espaço e os corpos presentes na sala de oficinas através do exercício de observação e elaboração artística, passeando por distintas materialidades e possibilidades de produção de imagens nas artes visuais”.
Outra vez, tudo aconteceu de maneira natural. Lígia já tinha, no passado, enviado currículo e portfólio para o Sesc, e ficou surpresa quando foi contatada para realizar uma ação como esta. Participar, para ela, significa “reconhecimento”, tanto “institucional quanto pessoal”.
“Como artista, sempre desenhei, mas comecei a me especializar, me profissionalizar, viver disso. Então é um reconhecimento institucional. Mas também é importante para o lado pessoal. É aquela coisa de ‘quando eu crescer quero ser’, é validação. Quando está ali, trabalhando, é apresentada como artista. É como sair do lugar do espectador e ir para frente da cortina e se perceber”.
Mais oficinas e outras atividades
Outros vários mogianos já participaram das primeiras atividades do Sesc em Mogi. Na semana passada, por exemplo, um ‘Encontro de Tambores e Louvores’ celebrou a tradicional congada que acontece na cidade. Mas há mais, como a já citada Amanda Esteves.
Neste sábado, por exemplo, a fotógrafa Beatriz Ataídio coordenará uma oficina de “Mographia – fotografia com celular”, às 10 horas e às 13h30. “Observaremos as linhas, luzes, sombras e contrastes que formam as imagens e a utilizaremos em composições fotográficas”, convida ela.
Tem também Mariana da Matta, que tem oficina programada para este domingo (28) e está “atuando na equipe do Sesc durante os primeiros meses da unidade, mais especificamente como educadora/produtora temporária no ETA (Espaço de tecnologia e Artes) e sala de oficinas, junto da equipe fixa”.
Outro nome é Lucas Bandeira, artista visual, das artes cênicas, que já ministrou oficinas de pintura no espaço, ao lado de Lígia do Céu. Aliás, foi ela quem o indicou, já que o Sesc estimula que os artistas contratados acionem colegas da região.
“Acho que é uma conquista importante ter um espaço como esse na nossa cidade. Mogi e região passaram por um processo de perda de espaços importantes, principalmente por conta da pandemia. Como estes pontos ficaram fragilizados e vulnerabilizados, o Sesc veio em um momento crucial. Para nós, é muito bom, principalmente se (o equipamento) for capaz de fomentar a cultura, pensar contratações e como movimentar, não só culturalmente, mas economicamente, o entorno do Sesc, os artistas da região”, avalia Lucas.