O que se sabe sobre Mogi na investigação de corrupção envolvendo o PCC
De líder foragido a empresas investigadas pelo Gaeco, Mogi das Cruzes é um dos focos da Operação Munditia, do Ministério Público
Promotores em coletiva quando a operação foi deflagrada | MPSP
Reportagem de: Josué Suzuki
A Operação Munditia desvendou um complexo esquema de fraude em licitações a mando do PCC (Primeiro Comando da Capital). Os números até agora impressionam: foram cumpridos 42 mandados de busca, sendo 29 na região do Alto Tietê. Entre as cidades “visitadas” pela força-tarefa do Ministério Público estão Mogi das Cruzes, Poá, Suzano, Guararema, Ferraz de Vasconcelos e Arujá, além de Guarulhos, Jacareí, Itatiba e Cubatão. Desde então, são dois vereadores presos na região, prefeituras e empresas com contratos públicos investigadas.
Documentos apreendidos pelo Ministério Público do Estado de São Paulo revelaram tentativas do PCC de manipular licitações nas cidades que estão na mira da investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). Mas o que existe de fato em Mogi das Cruzes no esquema? A cidade ganhou o noticiário nacional e as especulações nas redes sociais são imensuráveis. Para ajudar a esclarecer, O Diário conversou com um dos responsáveis pela investigação.
Mogi é um dos no focos da operação principalmente por conta do empresário apontado como líder do esquema. Ele é de Suzano, mas mora em Mogi das Cruzes e está foragido. De acordo com o Gaeco, as empresas do suspeito, inclusive, estavam em Mogi e prestavam serviços como terceirização de mão-de-obra, limpeza, postos de controle (algo como vigilância, fiscalização em locais públicos para controlar a entrada e o direcionamento de pessoas).
Na investigação consta uma troca de conversa entre investigados em que um processo público de Mogi das Cruzes é citado. Um deles diz:
“Se não tivermos a oportunidade de redigirmos o edital não venceremos nunca.”
Para o Gaeco, “a mensagem atesta que em determinadas cidades eles conseguem mexer no edital”. No caso em questão, seria para a contratação de uma empresa de limpeza terceirizada da Prefeitura de Mogi, mas que, sem alguém para interceder, “ficaria difícil ganhar”. O Ministério Público garantiu para a reportagem que até o momento não existe nenhuma abordagem à Prefeitura ou à Câmara de Mogi das Cruzes. Aliás, as buscas e apreensões feitas na cidade foram em seis endereços residenciais e empresas, com apreensão de documentos, aparelhos eletrônicos e celulares.
Esquema
O esquema revelado pela Operação Munditia não se limita a uma área restrita. Apesar da maior parte dos mandados de busca e apreensão estar no Alto Tietê (29 dos 42), o escândalo se estendia por 18 cidades, incluindo a Região Metropolitana de São Paulo, Baixada Santista e interior. O valor dos contratos afetados supera a marca de R$ 200 milhões.
Há casos em que nomes de membros do PCC aparecem como sócios formais nas empresas fantasma criadas para simular concorrência e há ainda servidores públicos investigados por receber propinas.
A operação foi deflagrada no dia 16 de abril e teve início com o monitoramento de áudios de integrantes do PCC, levando à identificação de um conluio liderado por pessoas ligadas à organização criminosa. O trabalho envolve 27 promotores de Justiça.