O clube Náutico mogiano: o fim de uma era
Conversando à pouco com minha mãe e minhas tias, elas me contaram como era lindo aquela área com um gramado que encontrava uma praiazinha
01/09/2025 08h52, Atualizado há 1 mês

Nelson Freitas escreve sobre o Clube Náutico | Divulgação

Toda cidade que se presa tem um clube social, muitos com sedes campestres, com piscina, parquinho, quadras de esportes, salão de festas e muita, mas muita historia pra contar. Minha infância e juventude são repletas de lembranças de um desses, que desafortunadamente, depois de anos de grande e nobre atividade na cidade, está fechando suas portas.
O clube Nautico, foi fundado em Mogi das Cruzes no ano de 1933.

Se parar um pouco pra pensar, o que era a cidade naquela época… o que era o mundo naquela época. As ruas , as casas, as pessoas, a moda, os trajes de banho que desfilavam à beira de um límpido e caudaloso rio Tietê. E foi assim na beira de um rio que aquela gente começou a cultivar atividades físicas atravessando gerações, com historias de pai pra filhos e netos, lembranças que até hoje estão marcadas na vida de todos os Mogianos, dos bailes de carnaval, aos eventos com grandes artistas.
Conversando à pouco com minha mãe e minhas tias, elas me contaram emocionadas como era lindo e bucólico aquela área do clube com um gramado que encontrava uma praiazinha de areia à beira do rio, que por sua vez abrigava um cocho, que era uma espécie de cercado dentro d’água para os banhistas, um trampolim e 3 níveis de altura e um caramanchão onde as pessoas faziam seus piqueniques.
Soube também que nos anos 50 durante as festas de Momo, um cortejo saia da praça Oswaldo Cruz a principal da cidade, onde também ficava o saudoso Cine Odeon, e a Pizzaria Maracanã, a primeira da região, ali pertinho da estação do trem, embalados pelas bandas da Radio Marabá e a Guarani tocando as mais deliciosas marchinhas, o imenso grupo de foliões com fantasias de papel crepom , só os homens evidentemente, pois naquela época moças recatadas não entravam na farra pra não ficarem faladas, e desciam a avenida animando os moradores até o Clube, e a festa terminava com todos devidamente alcoolizados mergulhando no rio e se divertindo com aquela alegria inocente que há muito não existe mais.
Anos mais tarde festas do Havai em volta da piscina toda adornada de frutas e temas tropicais, e bailes à fantasia, eram agendas esperadas todos os anos. Eu me lembro de nos bailes de carnaval a gente ficava rodando no salão e a orquestra furiosa com seus metais em braza, no palco desfolhava as mais tradicionais musicas como “oh jardineira porque está tão triste?”, ou “tanto riso oh tanta alegria, mais de mil palhaços no salão” , até “quem não chora não mama”, e o infalível “alalaô mais que calor ôôôô”. Aliás o Ki-calor foi outro bloco que animou deveras as ruas da cidade no carnaval, que mais tarde seria transferido la pra cima na Narcisio Yague. Adoraveis lembranças.
Mas voltando aqui para as bandas da Ponte Grande, o Clube Náutico Mogiano, durante os quase 100 anos de atividades com vocações esportistas, teve uma equipe de natação que estava sempre entre as 10 melhores do país, e também abrigou a primeira faculdade de Educação Física de Mogi. Gerações de grandes nadadores e uma legião de crianças, assim como eu, foram treinadas naquela piscina, que mesmo sob o frio glacial da terra do caqui, enlouquecíamos os técnicos e professores que foram verdadeiros pais pra nós.
Meu avô Edgard da Silva e Costa esteve na presidência durante 11 anos e muito fez pra manter o clube sempre bonito, ativo e respeitado. Minha mãe me conta que volta e meia ele levantava as 4 da manhã e ia navegar no rio com varejão, cantando arias de opera ao raiar do sol com as 4 filhas a bordo da canoa, embevecidas com tanta exuberância e ludicidade
Um dentista chamado Carlos Augusto Ferreira Alves, provavelmente foi um dos que mais tempo ficou no cargo e muito fez para que o Clube fosse a referencia que sempre foi na região. Saudades do querido Carlito, que com mão de ferro e simpatia ao mesmo tempo, comandou a diretoria, e tentou manter não só seus associados satisfeitos, bem como a estrutura e beleza desse clube tão importante para o desenvolvimento, a saúde física e mental e as relações da sociedade Mogiana.
Acho que todo mundo que nasceu e cresceu na cidade, tem alguma historia com o Náutico, que hoje, provavelmente por equivocadas decisões, e problemas degestão, se encontra afundado em dividas, tendo que fechar suas portas para dar lugar a uma outra iniciativa da prefeitura que esperamos que seja eficiente e que o projeto de um parque, como está proposto, ofereça à cidade áreas agradáveis e seguras, honrando assim um pedaço de chão, que leva um pedaço da gente no coração.
- O ator, comediante, palestrante e mogiano Nelson Freitas escreveu este artigo exclusivamente para O Diário.