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Entenda como a inflexibilidade metabólica prejudica o emagrecimento

A obesidade é uma condição multifatorial que vai muito além do peso mostrado na balança. Embora fatores como alimentação inadequada, falta de atividade física e predisposição genética sejam frequentemente lembrados quanto à doença, há um obstáculo menos conhecido que pode comprometer o sucesso de qualquer tratamento: a chamada inflexibilidade metabólica. “Ela é descrita como a […]

Por Edicase Conteúdo
29/09/2025 20h00, Atualizado há 8 horas

A obesidade é uma condição multifatorial que vai muito além do peso mostrado na balança. Embora fatores como alimentação inadequada, falta de atividade física e predisposição genética sejam frequentemente lembrados quanto à doença, há um obstáculo menos conhecido que pode comprometer o sucesso de qualquer tratamento: a chamada inflexibilidade metabólica.

“Ela é descrita como a incapacidade do organismo de alternar eficientemente entre fontes de energia — principalmente gordura e carboidrato — de acordo com a demanda do corpo. Esse mecanismo, que deveria funcionar como uma engrenagem bem lubrificada, torna-se emperrado, prejudicando o equilíbrio energético e favorecendo o acúmulo de gordura corporal”, explica a endocrinologista Dra. Deborah Beranger, pós-graduada em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ).

Esse desajuste no metabolismo também afeta a capacidade de o corpo responder a futuros processos de emagrecimento. “O reganho de peso está envolvido nesse problema. Quanto mais flutuações de peso, mais inflexibilidade metabólica o paciente tem e isso vai tornando mais difícil o processo de emagrecimento com o passar do tempo. Além disso, quanto mais ciclos de emagrecimento e reganho o paciente passa, mais o corpo vai ajustando seus mecanismos hormonais, metabólicos e celulares para ‘evitar’ nova perda de peso”, acrescenta a médica.

Organismo deixa de usar gordura como fonte de energia

Em condições normais, o corpo humano utiliza predominantemente carboidratos como fonte de energia durante atividades de alta intensidade ou logo após as refeições, enquanto nas fases de jejum ou baixa intensidade, passa a usar gordura.

“Esse processo dinâmico, chamado de flexibilidade metabólica, foi descrito inicialmente em estudos com indivíduos saudáveis e com resistência à insulina. No entanto, em pessoas com obesidade, síndrome metabólica ou diabetes tipo 2, esse sistema perde eficiência, levando ao que se conhece como inflexibilidade metabólica. O organismo desses indivíduos permanece dependente de carboidratos, mesmo quando deveria estar utilizando gordura, o que dificulta a queima de estoques lipídicos e agrava a resistência à insulina”, comenta a Dra. Deborah Beranger.

Sedentarismo afeta a eficiência metabólica

Além do reganho de peso, o sedentarismo é outro vilão, segundo a endocrinologista, porque o músculo é o principal órgão da flexibilidade metabólica. “Ele é o maior reservatório de glicogênio do corpo e um dos principais responsáveis pela oxidação de ácidos graxos. Quando estamos ativos, o músculo alterna entre usar glicose (em exercícios intensos) e gordura (em atividades leves ou prolongadas), treinando constantemente essa troca de combustíveis”, diz a Dra. Deborah Beranger.

Conforme a médica, o sedentarismo “desliga” o sistema que alterna a troca desses “combustíveis”. “Quando ficamos sentados o dia todo, sem usar os músculos de forma ativa, acontece algo chamado downregulation das enzimas mitocondriais — ou seja, as mitocôndrias (responsáveis por gerar energia) se tornam menos eficientes em oxidar gordura”, alerta.

Mulher olhando comidas dentro de uma geladeira
A inflexibilidade metabólica aumenta a necessidade de comer e diminui a saciedade após as refeições (Imagem: Andrey_Popov | Shutterstock)

Sintomas da inflexibilidade metabólica

De acordo com a Dra. Deborah Beranger, os sintomas da inflexibilidade metabólica se manifestam indiretamente, com dificuldade para perder peso mesmo com dieta e exercício, fadiga constante, necessidade frequente de comer para manter energia, baixa saciedade após refeições ricas em gordura e tendência a ganhar peso rapidamente após deslizes alimentares. “Pacientes metabolicamente inflexíveis apresentam menor oxidação lipídica, mesmo em situações de jejum, e um metabolismo que permanece fixo em padrões menos eficientes”, diz a especialista.

Perigos da inflexibilidade metabólica

Essa dificuldade não traz apenas obstáculos para o emagrecimento: ela também gera impactos profundos na saúde como um todo. “Na prática clínica e na saúde pública, esse fenômeno é particularmente preocupante porque mina os esforços tradicionais de emagrecimento. Muitas pessoas obesas que fazem restrição calórica ou aumentam a atividade física enfrentam um corpo que ‘resiste’ a usar gordura como combustível, criando um círculo vicioso: o organismo continua ávido por glicose, há aumento das reservas de gordura, a resistência à insulina se intensifica, e a inflamação crônica de baixo grau se estabelece. Isso também contribui para problemas cardiovasculares, esteatose hepática, alterações hormonais e aumento do risco para certos tipos de câncer”, alerta a médica.

Estratégias de tratamento

Do ponto de vista terapêutico, a endocrinologista argumenta que romper esse ciclo exige mais do que apenas cortar calorias. “Estratégias como o aumento de atividade física de baixa e moderada intensidade (que privilegia a oxidação de gordura), treinamento de força, melhora da qualidade alimentar, controle do estresse e intervenções para melhorar a sensibilidade à insulina podem ajudar a restaurar a flexibilidade metabólica”, enumera a Dra. Deborah Beranger.

Além das mudanças de estilo de vida, ela destaca que alguns tratamentos farmacológicos também podem ser aliados importantes. “O tratamento com as canetas (Ozempic e Mounjaro) também é recomendado para alguns pacientes. Tanto a semaglutida (um agonista de GLP-1) quanto a tirzepatida (agonista duplo de GLP-1 e GIP) atuam melhorando a secreção de insulina, reduzindo a secreção de glucagon e, principalmente, melhorando a sensibilidade à insulina. Isso já ataca uma das bases da inflexibilidade. Mas essas estratégias precisam estar ajustadas com mudanças no estilo de vida”, explica.

Perder peso também depende do metabolismo

A endocrinologista reforça que é fundamental que profissionais de saúde e a população em geral compreendam que perder peso não é apenas uma questão de força de vontade ou disciplina, mas também de reeducar um metabolismo que, por anos, funcionou em modo desajustado. “Enquanto não forem abordadas as raízes metabólicas do problema, os esforços individuais seguirão sendo, muitas vezes, frustrantes e ineficazes”, finaliza.

Por Guilherme Zanette

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