Do politicamente correto ao racismo reverso: dicionário explica os novos termos da política
Preocupados com a disseminação de termos no debate político que não são compreendidos por uma parcela significativa da população, um grupo de pesquisadores e linguistas decidiu lançar um dicionário para explicar a origem e significados de expressões como cristofobia e politicamente correto. A publicação resgata a história dos vocábulos selecionados e aponta os momentos em […]
08/05/2022 18h05, Atualizado há 41 meses
Preocupados com a disseminação de termos no debate político que não são compreendidos por uma parcela significativa da população, um grupo de pesquisadores e linguistas decidiu lançar um dicionário para explicar a origem e significados de expressões como cristofobia e politicamente correto. A publicação resgata a história dos vocábulos selecionados e aponta os momentos em que passaram a ser usados no Brasil.
A iniciativa surgiu de observações durante as eleições de 2018 e 2020. O grupo de autores percebeu que, durante debates, muitos políticos não conseguiam dar uma resposta adequada quando eram acusados por adversários, por exemplo, de propagar a “ideologia de gênero”.
O dicionário é uma parceria de pesquisadores da área de linguística aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Observatório de Sexualidade e Política (SPW, na sigla em inglês). “Termos ambíguos do debate político atual: pequeno dicionário que você não sabia que existia” traz um total de oito verbetes: ideologia, ideologia de gênero, politicamente correto, marxismo cultural, cristofobia, racismo reverso e feminismo.
O objetivo do projeto é fazer com que os leitores reflitam sobre as expressões.
— Queremos que as pessoas tenham clareza para debater e contestar esses termos. E também provocar curiosidade para que pesquisem mais. Quando determinados termos são absorvidos pelo senso comum, naturalizam-se. Parece que sempre houve aquele uso — diz Sonia Correa, coordenadora do SPW.
Os autores do dicionário apontam que a maior parte dos termos ganhou espaço no debate político nacional graças à ascensão das forças de extrema-direita, consolidada no país na eleição de 2018. Mas há pelo menos uma exceção: o politicamente correto, usado como ferramenta para ataques também pela esquerda.
O termo surgiu nos Estados Unidos no século 18 para designar ações políticas corretas e justas. Foi sendo assim ao longo do tempo. E hoje, no Brasil, como relatam os pesquisadores, a expressão é usada em tom de crítica ou desqualificação das práticas de linguagem inclusiva. “Os críticos negam a existência da desigualdade que o politicamente correto busca combater ou dizem que substituir palavras não faz diferença”, diz o dicionário.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) rotineiramente se declara “contra o politicamente correto”. No último dia 26, em entrevista a youtubers, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não usou o termo, mas se queixou que o mundo “anda chato para cacete” porque “todas as piadas agora viraram politicamente erradas”.
— Nós queremos um mundo multipolar, que tenha 500 pessoas discutindo à mesa. Aí sim, a gente vai ter um mundo feliz. O cara contando piada de nordestino e eu rindo. Eu contando piada de outras pessoas, e as pessoas rindo — disse o petista, que é pernambucano.
O dicionário está disponível no site sxpolitics.org/pequenodicionario, onde pode ser baixado como livro virtual, de forma gratuita.