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Ortopedista pediátrico do Imot fala sobre o tratamento de pacientes com diagnóstico de TEA

Doutor Rodrigo Sbeghen explica que alguns pacientes com TEA apresentam alterações motoras e ortopédicas que impactam diretamente sua funcionalidade e qualidade de vida.

10 de abril de 2025

Diagnóstico de autismo ocorre geratalmente na infância Unicef/ONU

Reportagem de: Especial AGFE

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento, caracterizada por déficits na comunicação social, padrões repetitivos de comportamento e uma ampla variabilidade clínica. Além das manifestações comportamentais e cognitivas, é comum que indivíduos com TEA apresentem alterações motoras e ortopédicas que impactam diretamente sua funcionalidade e qualidade de vida. Neste mês em que é celebrado o mês de conscientização do Autismo, vamos abordar os principais acometimentos ortopédicos em pacientes com TEA, com foco na marcha na ponta dos pés, e propõe estratégias terapêuticas baseadas em uma abordagem interdisciplinar e centrada no paciente.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) afeta aproximadamente 1 a 2% da população mundial e se manifesta precocemente, ainda na infância. Embora a principal atenção clínica esteja voltada para aspectos cognitivos e comportamentais, a avaliação motora e musculoesquelética deve ser parte essencial do acompanhamento desses pacientes, uma vez que alterações ortopédicas são frequentes e impactam diretamente no desenvolvimento global.

As particularidades sensoriais e comportamentais de indivíduos com TEA exigem adaptações no ambiente clínico e nas estratégias terapêuticas utilizadas, tornando o acompanhamento ortopédico um desafio que requer sensibilidade, paciência e um olhar multidisciplinar.

Principais Alterações Ortopédicas Associadas ao TEA

Marcha na ponta dos pés (Toe Walking). A marcha digital é uma das alterações ortopédicas mais comuns em crianças com TEA. Pode ocorrer por diversos motivos, incluindo:
– Hipersensibilidade tátil plantar;
– Busca sensorial ou padrões motores repetitivos;
– Hipertonia ou espasticidade dos músculos da panturrilha;
– Encurtamento do tendão de Aquiles.

Tratamento

Abordagem Conservadora:
– Fisioterapia com foco em alongamentos do tríceps sural, exercícios de dorsiflexão ativa e propriocepção;
– Terapia Ocupacional voltada para regulação sensorial, com estímulos táteis e integração sensorial plantar;
– Órteses tipo AFO, tanto para uso diurno quanto noturno, com o objetivo de manter o tornozelo em dorsiflexão e impedir o padrão de marcha na ponta dos pés.

Tratamento Farmacológico:
– Toxina botulínica tipo A aplicada em gastrocnêmio e sóleo nos casos de espasticidade, facilitando o alongamento muscular. Deve ser acompanhada de fisioterapia intensiva nas semanas subsequentes à aplicação.

Abordagem Cirúrgica (em casos refratários):
A intervenção cirúrgica é indicada quando há falha no tratamento conservador, principalmente em casos de contratura muscular fixa ou encurtamento estrutural do tendão de Aquiles. Os critérios que geralmente norteiam a decisão cirúrgica incluem:
– Ausência de resposta adequada após 6 a 12 meses de tratamento conservador intensivo.
– Presença de impacto funcional significativo na marcha e nas atividades diárias.
– Confirmação clínica de encurtamento fixo com limitação da dorsiflexão do tornozelo.

Os procedimentos mais comuns incluem:
– Tenotomia ou alongamento do tendão de Aquiles, frequentemente por técnica de Z-plastia, quando há encurtamento significativo.
– Alongamento do gastrocnêmio, como no procedimento de Strayer, indicado em casos com encurtamento isolado dessa musculatura.

A cirurgia deve sempre ser seguida de um protocolo de reabilitação motora intensiva, com uso de órteses no pós-operatório imediato e fisioterapia funcional contínua. O acompanhamento ortopédico periódico é essencial para garantir o ganho de amplitude, prevenir recidivas e promover uma marcha funcional e integrada ao desenvolvimento global da criança.

Pé Plano

Muito frequente em crianças com hipotonia, comum no TEA, o pé plano costuma ser flexível e assintomático.
– Tratamento: palmilhas ortopédicas, exercícios de reforço do arco plantar e, raramente, cirurgia em casos graves com dor e comprometimento funcional.

Hipermobilidade Articular
Comum devido à hipotonia muscular, podendo causar dor, fadiga e instabilidade.
– Tratamento: fortalecimento muscular, fisioterapia funcional e uso de órteses estabilizadoras em articulações mais afetadas.

Escoliose

Mais prevalente em pacientes com TEA e comorbidades neurológicas associadas.
– Tratamento: monitoramento com exames de imagem, uso de coletes ortopédicos em curvas moderadas e cirurgia em casos severos e progressivos.

Dispraxia e Alterações de Coordenação Motora

Muitos pacientes com TEA apresentam dificuldades na execução de movimentos coordenados, equilíbrio e planejamento motor.
– Tratamento: fisioterapia neuromotora, terapia ocupacional e atividades com foco em equilíbrio, controle postural e funcionalidade.

Algoritmo de Avaliação da Marcha na Ponta dos Pés

Etapas principais da conduta clínica:
1. Avaliação clínica detalhada: frequência, padrão de marcha, tônus, sensibilidade, presença de encurtamentos.
2. Determinação da causa predominante: sensorial, motora funcional, encurtamento estrutural ou mista.
3. Intervenções progressivas conforme necessidade:
– Terapias sensoriais e motoras em casos leves/moderados.
– Toxina botulínica para casos com hipertonia funcional.
– Cirurgia para encurtamentos fixos refratários.
4. Acompanhamento funcional periódico com foco na marcha, equilíbrio e qualidade de vida.

Considerações finais

O cuidado ortopédico de indivíduos com TEA requer um olhar atento às particularidades clínicas, comportamentais e sensoriais que acompanham esse transtorno. As alterações musculoesqueléticas, quando não tratadas adequadamente, podem comprometer o desenvolvimento motor, a independência funcional e o bem-estar geral do paciente.

A abordagem deve sempre ser interdisciplinar, envolvendo não apenas o ortopedista, mas também fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, neurologistas e psicólogos, em um trabalho conjunto e coordenado. Além disso, é imprescindível o envolvimento da família no processo terapêutico, promovendo a adesão às intervenções e garantindo a continuidade dos cuidados em casa.

O acompanhamento ortopédico regular, preventivo e adaptado às necessidades do espectro é essencial para promover uma infância mais funcional, ativa e com melhor qualidade de vida para os pacientes com TEA.

Sobre o Imot

O IMOT é um dos maiores institutos especializados em Ortopedia e Traumatologia do Brasil. Atualmente conta com duas unidades, nas cidades de Mogi das Cruzes e Suzano, na Grande SP, com pronto atendimento, consultas, fisioterapia, hidroterapia e diversos tratamentos especializados. O pronto atendimento funciona todos os dias na unidade mogiana, das 8h às 22h.   A unidade de Mogi conta ainda com o Imot Care, um andar inteiro pensado para tratamento e prevenção de fraturas e contusões, além de 11 especialidades médicas em diferentes áreas. Já a Imot Move Saúde é uma clínica do movimento e promoção de saúde, que atende no 2º andar do prédio. Para mais informações, acesse o site do Imot.

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