Em entrevista exclusiva, sobrevivente de chacina lembra da mortes dos amigos com detalhes
Chacina do Caputera vitimou Lucas (esq), Christian (centro) e Ivan (dir) | Reprodução/Redes Sociais.
Reportagem de: Vitor Gianluca
Uma década após a chacina da Vila Caputera, que vitimou os colegas de infância Christian Silveira, de 17 anos; Ivan Marcos dos Santos Souza, de 20; e Lucas Thomaz de Abreu, de 18, no dia 24 de janeiro de 2015, um dos sobreviventes que testemunhou o ataque lembra dos detalhes e afirma carregar os traumas até hoje. É a primeira vez que ele fala sobre o assunto publicamente.
A chacina do Caputera completou há poucos dias 10 anos e por mais assustadora que a história pareça, não foi o único ataque com este tipo de modus operandi na cidade entre 2013 e 2015. Naquele período, ocorreram 10 ataques com as mesmas características. As vítimas, eram sempre as mesmas, jovens de periferia. Além das três vítimas fatais da Vila Caputera, outros dois jovens foram mortos em Jundiapeba, um de 14 e outro de 29 anos.
O primeiro ataque ocorreu duas horas antes, no início da madrugada, no Caputera. Com a intenção de preservar a integridade física e por receio de sofrer alguma represália, o sobrevivente deste ataque prefere não se identificar, mas afirma que na época tinha 16 anos, é familiar de uma das oito vítimas que estavam no local e de saiu ileso do ataque que resultou nas mortes de Ivan, Christian e Lucas.
Naquela noite, ele estava em um grupo formado por oito jovens, em frente à casa da família de Ivan. De acordo com ele, essas rodas de conversa entre os amigos de bairro naquele local, era bastante comum. “A gente estava conversando e aguardando chegar as esfihas que tínhamos pedido. Em momento algum fizemos algo de errado, pelo contrário, estávamos ali reunidos, conversando, como fazíamos todos os dias”, diz.
Uma hora antes do ataque, um veículo passou no local anunciando que iria acontecer uma tragédia ali. Minutos depois, um outro carro chegou no local e se aproximou do grupo. “Ninguém falou nada, não se identificaram, efetuaram os tiros e fugiram. Nós estávamos em oito jovens, três perderam a vida e dois se feriram. Eu consegui correr e me esconder até tudo normalizar”, lembra o sobrevivente.
Com medo, ele retornou ao local para ver o que tinha acontecido com os amigos. “Eu voltei e vi todo mundo deitado no chão. Foi um desespero. Um monte de gente em volta, tentando saber o que tinha acontecido”, comenta.
O sobrevivente afirma que nunca deu entrevista ou falou sobre o caso de forma oficial, com medo de sofrer com alguma represália. “Não é fácil, sei que vou carregar isso comigo pra sempre. Perdi três amigos assim e sei que não vai ser fácil. Isso vai estar sempre comigo. Mexeu bastante com a minha cabeça”, finaliza.