A fome sob carimbo
A fome não marca hora, não espera, e aquele que tem uma família na rua por falta de moradia, um pão que alimenta é a salvação

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Reportagem de:

No Brasil existem milhões de desempregados e praticamente em todas as grandes cidades e capitais pessoas em situação de rua e vulnerabilidade. Os motivos deste flagelo são vários e evidentemente deixam à mostra as carências gigantes da população sofrida que não tem um teto, e sem teto, falta estrutura material de vida que vem acompanhada da fome.
No mérito das razões de uma pessoa estar em situação de rua, uma reflexão é importante fazer, justamente a que desperta o olhar para um famigerado projeto de lei (PL 445/2023) de um vereador da capital paulista, o qual pretende estabelecer regras e multas para ONGs que oferecerem comida aos desvalidos. Isso precisa ser regulamentado?
A fome não marca hora, não espera, e aquele que tem uma família na rua por falta de moradia, sem emprego e recurso financeiro, um pão que alimenta é a salvação, venha ele como vier.
A doideira do projeto é que sob pretexto de regular o fluxo daqueles que trabalham com ações sociais e organizar a população em situação de rua e vulnerabilidade, a norma propõe efetuar cadastro de voluntários, obrigá-los a montar estrutura de atendimento e fazer prévio agendamento da ação.
Descumprida a regra, que ainda quer obrigar obtenção de autorização sanitária para distribuição de uma sopa, a organização não governamental se sujeitaria a uma multa de quase 18 mil reais.
Sério isso?
Não só é sério que a loucura bateu ponto com a aprovação do projeto de lei em primeira votação na Câmara Municipal de São Paulo.
Se o Poder Público tivesse de fato estrutura e organização suficientes para acolher os desvalidos, a regulamentação, que de alguma forma há em outros países, até poderia ser considerada um ponto de discussão, mas numa cidade como São Paulo, com tanta carência, isso é desumano.
Essa a “qualidade” do debate que se vê na política nacional. Vai que a moda pega. Ridículo tratar a fome sob carimbo!
“A fome não marca hora e o pão que alimenta não precisa de formulário para ser entregue”