5 dicas para promover a saúde mental no trabalho
Os cuidados com a saúde mental devem ocorrer em todos os aspectos da sociedade, inclusive no ambiente de trabalho. A pesquisa Índice de Bem-Estar Corporativo (IBC) do Mercado, conduzida pela Zenklub, analisou o bem-estar emocional em 13 setores durante o primeiro semestre de 2023 e nenhum alcançou o índice mínimo ideal exigido pelo estudo nesse período. De […]
Reportagem de: Edicase Conteúdo
Os cuidados com a saúde mental devem ocorrer em todos os aspectos da sociedade, inclusive no ambiente de trabalho. A pesquisa Índice de Bem-Estar Corporativo (IBC) do Mercado, conduzida pela Zenklub, analisou o bem-estar emocional em 13 setores durante o primeiro semestre de 2023 e nenhum alcançou o índice mínimo ideal exigido pelo estudo nesse período.
De acordo com outro levantamento conduzido pela Vittude, rede especialista em saúde mental do Brasil, 33% dos colaboradores avaliados apresentaram algum tipo de transtorno mental em níveis severos ou extremamente severos. As patologias consideradas no estudo incluem ansiedade, depressão e estresse.
“A velha ideia de romantizar o workaholic, de que quanto mais você rala, mais chances terá de receber reconhecimento, não respeitar os próprios limites (ou nem os reconhecer) também contribui para exaustão”, explica Ana Tomazelli, psicanalista e CEO do Ipefem (Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas).
Entretanto, ainda segundo a especialista, é “injusto atribuir responsabilidades individuais quando o problema é sistêmico e quando o medo de perder a fonte de renda é maior do que a coragem de se preservar. Por outro lado, esperar que o sistema mude, no curto prazo, é quase ingênuo da nossa parte, o que nos traz de volta às esferas mais particulares”.
Excesso de trabalho e casos de burnout
O relatório da International Stress Management Association (ISMA) revela que o Brasil está em segundo lugar em número de casos de burnout, sendo superado apenas pelo Japão, onde 70% da população é afetada pelo problema.
“As pessoas desenvolvem sintomas e doenças que, juntos, podem ser lidos como burnout. Por esse motivo, a causa da síndrome nem sempre será reconhecida de forma direta. Existem algumas variáveis responsáveis pelo adoecimento dos profissionais, como uma liderança que comete assédio, colegas que praticam bullying, cultura empresarial de performance com metas duras e inflexíveis, entre outros pontos que podem ser difíceis de serem levados à esfera judicial”, detalha a especialista Ana Tomazelli.
Impacto da síndrome em questões de raça e gênero
Além disso, vale ressaltar que as questões raciais e de gênero são agravantes neste contexto. Uma pesquisa feita pela Universidade da Geórgia mostrou que 70% das executivas entrevistadas se sentiam uma fraude no trabalho. De acordo com outro estudo feito pela consultoria de gestão KPMG, a síndrome abala a confiança de 75% das mulheres no mercado.
“A jornada de trabalho excessiva, a discriminação de gênero e sobrecarga doméstica são algumas das causas de adoecimento mental das brasileiras em seus ambientes de trabalho”, ressalta Jhenyffer Coutinho, CEO e cofundadora da startup Plure, portal de vagas do Brasil com foco em mulheres plurais.
Para a fundadora do Instituto Mulheres do Imobiliário, Elisa Rosenthal, a diversidade e a inclusão são importantes para o mercado atual, mas também têm um impacto significativo no futuro. “À medida que a população continua a crescer e mudar, e as expectativas dos consumidores e dos funcionários evoluem, as empresas que não conseguem acompanhar essas mudanças correm o risco de perder competitividade e relevância” alerta.
Benefícios da promoção de bem-estar no trabalho
Recentemente foi sancionada a Lei 14.831/2024, que institui o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental no ambiente de trabalho. Esta legislação estabelece diretrizes claras para as organizações como a implementação de programas de saúde mental, prevenção de discriminação e assédio e estímulo ao equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Ao adotar tais medidas, as empresas não apenas cumprem com obrigações legais, mas também promovem um ambiente mais saudável e produtivo para seus colaboradores.
Para Jhenyffer Coutinho, a implementação da lei traz uma série de benefícios tangíveis para as empresas. “Ao investir na saúde mental de seus colaboradores, as organizações podem reduzir o absenteísmo, aumentar a produtividade e melhorar o clima organizacional. Além de promover um ambiente de trabalho inclusivo e acolhedor, contribui para atrair e reter talentos e fortalece a imagem da empresa no mercado”, comenta.
A adoção dessa legislação não apenas impacta positivamente o bem-estar dos funcionários, mas também traz vantagens competitivas e sustentáveis para as organizações no longo prazo. Ao priorizar esse aspecto fundamental, as organizações não só fortalecem suas equipes, mas também constroem uma cultura empresarial mais resiliente e humanizada, preparada para os desafios do mundo contemporâneo.
Promovendo a saúde mental na empresa
O respaldo legal já aconteceu e a Lei 14.831/2024 foi validada. Agora, as lideranças precisam pensar em ações voltadas à saúde mental dos colaboradores durante todo o ano. Para isso, é válido adotar algumas atitudes, como:
1. Promova um espaço seguro para o diálogo
Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino (Ipefem), com mais de 200 participantes, mostra que apenas 37% dos profissionais se sentem totalmente seguros para discordarem da sua liderança no ambiente de trabalho. 63% manifestaram alguma ressalva ou receio de se posicionar quando discordam da liderança. “Esses números refletem a insegurança psicológica dos ambientes corporativos, considerando que a segurança psicológica não deveria ser algo negociável”, diz Ana Tomazelli.
2. Estabeleça um ambiente seguro e saudável
A Organização Mundial da Saúde aponta que ambientes de trabalho seguros e saudáveis são um direito fundamental para todos. Quando acolhem seus trabalhadores, as companhias são mais propensas a melhorar o desempenho e a produtividade, além de minimizar tensões e conflitos internos que podem impactar na saúde mental.
3. Incentive ações que combatam o assédio
O assédio físico, psicológico ou moral no trabalho viola os direitos humanos e prejudica a saúde mental e física. É obrigação da empresa detectar e buscar soluções para esse tipo de questão, combatendo atitudes de lideranças que cometem assédio, colegas que praticam bullying, cultura empresarial de performance com metas duras e inflexíveis, entre outros pontos.
4. Valorize a diversidade
De acordo com Jhenyffer Coutinho, os processos seletivos devem levar isso em consideração, bem como na contratação e na retenção dos talentos. A partir do momento que o quadro é mais diverso, é preciso também garantir o bem-estar dos colaboradores, sensibilizando lideranças e equipes para o combate a vieses inconscientes.
5. Melhore a qualidade de vida dos funcionários
Cada vez mais, os colaboradores buscam muito mais do que apenas bons salários, e querem estar em uma empresa alinhada aos seus ideais, que disponibilizem um ambiente propício ao seu desenvolvimento, a novos aprendizados e que seja aberto ao diálogo.
Seja no trabalho presencial ou remoto, a empresa deve se preocupar com o funcionário e promover sua satisfação, oferecendo condições adequadas de trabalho e equipamentos necessários, o que acarreta aumento da produtividade também.
“As lideranças precisam pensar em ações voltadas à saúde mental dos seus colaboradores durante todo o ano, e não somente em datas específicas. Cada colaborador é único e precisa ser tratado de acordo com as suas experiências de vida e individualidade”, conclui Ana Tomazelli.
Por Letícia Carvalho