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Movimentos culturais de Mogi resistem na pandemia

“Que a arte nos aponte uma resposta. Ainda que ela não saiba”. Em um ano pautado pela busca por respostas como 2020, a máxima de Oswaldo Montenegro em “Metade” é quase uma súplica para que o audiovisual e a literatura ajudassem a manter a sanidade de quem precisou se isolar de um inimigo invisível e […]

26 de dezembro de 2020

Reportagem de: O Diário

“Que a arte nos aponte uma resposta. Ainda que ela não saiba”. Em um ano pautado pela busca por respostas como 2020, a máxima de Oswaldo Montenegro em “Metade” é quase uma súplica para que o audiovisual e a literatura ajudassem a manter a sanidade de quem precisou se isolar de um inimigo invisível e recorreu às manifestações culturais para distrair e compreender que mesmo diante da enormidade do momento haveria saída. 

Para quem produz esse tipo de conteúdo, o ano também foi desafiador. Tirou da zona de conforto e demandou adaptações para que as produções chegassem até quem delas precisou. Exemplos são o Entremeio Literário, que converteu as atividades presenciais em encontros na internet, e o Galpão Arthur Netto, que o usou o momento das redes sociais para retomar as atividades após ter fechado a sede no ano passado. 

O Entremeio Literário realiza atividades há 13 anos e conta atualmente com 20 membros fixos. No começo do ano, 80% das atividades eram realizadas no Casarão do Carmo, no Centro Histórico de Mogi. O grupo usou as redes sociais para oferecer entretenimento, debates e arte enquanto o mundo físico sofre as restrições da pandemia da Covid-19. “A gente fala sobre assuntos, sem verdades ou mentiras. É assim para que as pessoas busquem o seu amadurecimento, entendimento, a sua verdade”, pontua Carla Pozo, integrante do grupo. 

Os encontros ocorreram até o começo de março, quando o grupo decidiu que era a hora de uma mudança na forma de oferecer cultura, sobretudo porque 80% dos integrantes são da terceira idade e, consequentemente, poderiam evoluir para o quadro mais grave da Covid-19. A saída foi levar a projeto para a internet. 

“No dia 24 de março, quando fechou tudo, iniciamos os encontros on-line, postando a poesia na rede, e esse olhar manteve o grupo muito unido, animado com a possibilidade de não precisar parar. Nas redes sociais, também surgiram convites para outras ações, como saraus”, relembra.
Para levar a programação ao universo digital, alguns integrantes precisaram aprender a participar de eventos pelas redes sociais. O grupo já se preparava para transmitir pela internet a Feira Literária da Serra do Itapeti (Flisi) deste ano, mas antecipou a mudança de canal.  Na pandemia, outras oportunidades foram aparecendo, como lançamentos de livros. 

“Outras ações surgiram, acredito que porque tivemos o processo de criatividade muito junto a nós. A arte foi/é uma ferramenta muito importante este ano, as pessoas precisaram se reinventar de como fazer um abraço chegar no amigo sem ser no virtual, e isso é um processo criativo. Houve a necessidade de inventar formas de liberar sorrisos. A gente teve muitos escritores que terminaram e lançaram livros. Foi um ano em que muitos artistas produziu. O grupo se manteve ativo e alegre no propósito”, avalia Carla. 

Agora, o Entremeio Literário entra em recesso e retorna na terceira terça-feira de janeiro, ainda de forma on-line.

Readaptação 

A questão da presença sempre foi algo muito forte para os membros do Entremeio, que costumavam se reunir para cafés ao término de cada encontro, ocasiões em que conversavam com os amigos e pensavam em novas ações.

Galpão Arthur Netto usa a internet como alternativa para retomar ações 

A falta de recursos econômicos levou o Galpão Arthur Netto de Cultura e Cidadania  a fechar as portas em Mogi das Cruzes no final do ano passado. Mas o movimento não teve fim. Após umas férias, o grupo que planejava voltar com espetáculos itinerantes está surfando na onda da internet como um canal para expor esses produtos – comportamento que ganhou força durante o isolamento social. 

O ator e diretor Manoel Mesquita Junior, gestor cultural do Galpão, conta que na pandemia o grupo também se sentiu afetado, mas inquieto também em poder utilizar o projeto como um espaço de circulação das obras e ainda de amparo e apoio emocional e artístico à sociedade. 
“A gente começou a fazer atividades on-line em abril.

Fomos contemplados no edital do programa Territórios para fazer produções pela internet. Foi uma oportunidade de continuar fazendo atividades que consigam trazer para as pessoas uma oportunidade de ter acesso à arte, à cultura, à cidadania”, ressalta o diretor. 

Entre os projetos surgiu o Cultura Hoje, uma série de debates com 12 temas como a saída das artes para a cena da pandemia, políticas públicas afirmativas culturais, a cultura negra em tempos de pandemia, o movimento LGBTQIA+, a terceira idade, entre outros. Mas produzir para a internet não era algo programado antes da pandemia. O gestor cultura conta que até existe uma boa parte das pessoas da cena cultural que tem o pé atrás de exibição de obras na internet. “Acabamos lançando um experimento teatral on-line, com um grupo de atores que está fazendo e que vão, provavelmente, estrear um espetáculo inteiro pela internet, mas com o objetivo que ele fosse ao vivo, com cada um da sua casa. O nome vai ser “A laive do fim do mundo”, detalhou. Veja teaser da produção. 

É assim que o Galpão Arthur Netto vai tentando fazer do momento pandêmico mais leve. Mesquita Junior acredita que a arte “segurou a onda” de muita gente neste momento inimaginável que o mundo enfrenta. “A arte está aí e ela cumpre o seu papel. Mas infelizmente a sociedade tem uma questão de não valorização aquilo que é subjetivo. A gente dá muito valor para o dinheiro, a moeda, questões ordinárias de serviço, mas não percebe o quanto algumas atividades consideradas subjetivas são importantes para a nossa cidade”, pontua. 

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