Trail running: com trilhas como a da Pedra Grande, Mogi amplia agenda de corridas
Força de espírito, superação e conexão com a natureza são pilares do trail running, ou corrida de montanha. O esporte relativamente novo no país encontra em Mogi das Cruzes potencial e cenários ideais para crescimento. A cidade é cercada por redutos (e belezas) naturais, firmando-se como um destino para praticantes de diversas regiões. Neste tipo […]
Reportagem de: O Diário
Força de espírito, superação e conexão com a natureza são pilares do trail running, ou corrida de montanha. O esporte relativamente novo no país encontra em Mogi das Cruzes potencial e cenários ideais para crescimento. A cidade é cercada por redutos (e belezas) naturais, firmando-se como um destino para praticantes de diversas regiões. Neste tipo de corrida, que acontece longe das pistas, a resiliência dos atletas é testada em meio a belas paisagens. Provas da modalidade estão se tornando tradição local, com a próxima prevista para o mês que vem.
Uma empresa de Mogi especializada na modalidade enxerga crescimento na procura nos últimos anos – com cerca de 75% dos participantes vindos de fora – enquanto traça novos projetos: planeja para 2024 uma etapa de competição nacional no Pico do Urubu e estuda a realização de uma prova de 70 km adentro da Serra do Itapeti.
Mogi é privilegiada em pontos para o trail running, que acontece em trilhas de montanha ou caminhos secundários, através de montanhas e colinas. É um nível acima da corrida convencional, com características próprias, como a conscientização ambiental dos praticantes.
“No meio do caminho, tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho (…)”. Às vezes o caminho leva a uma pedra no quintal de Mogi, desconhecida para muitos: um desses pontos privilegiados para o esporte é a trilha que conduz à imponente Pedra Grande, no distrito de Quatinga. Com acesso pelo antigo Caminho do Sal, a formação tem aproximadamente 100 metros de altura, em granito encravado na Serra do Mar. É um mirante natural, com vista privilegiada da mata atlântica e de onde é possível até avistar o litoral, quando o tempo está limpo.
O ponto de ecoturismo é palco de outras atividades pouco convencionais, como o downhill, mountain bike, rapel e trilhas. No dia 29 de outubro, o cenário receberá o Desafio da Pedra Grande – corrida de trail running, com largada a partir das 8 horas e ações de preservação ambiental. A organização é da empresa Itapetitrail, que tem expertise neste reduto.
“Iremos percorrer trilhas com alto grau de dificuldade técnica imposta pela natureza, porém teremos o desfrute de lindas paisagens do meio ambiente característico da mata atlântica de Mogi, com pontos no alto do cume da Pedra Grande”, traz nota-convite do evento.
Caminho antigo
O acesso à Pedra Grande se dá pelo famoso Caminho do Sal, próximo da Vila de Paranapiacaba e Fazenda Taquarussu, na divisa com Mogi das Cruzes. Conhecida como um desafio oferecido pela própria natureza, a travessia até o topo exige cautela, fôlego, preparo e disposição.
O treinador de corrida de montanha e condicionamento físico, Danilo Mancio, é um dos atletas que pretende participar do desafio. Formado em Educação Física, ele defende a adoção do esporte para uma transformação radical na vida e construção de hábitos saudáveis. Também dá dicas para quem deseja começar.
Danilo conta que o percurso pode ser praticado até mesmo por novatos. A dificuldade, explica ele, parte do ritmo que a pessoa se propõe a seguir. Quem é iniciante consegue finalizar o trajeto até o topo da pedra em cerca de uma hora.
“Pessoa iniciante pode subir, mesmo sem conhecer a trilha. É bom, porém, sempre tomar cuidado, principalmente na descida. A travessia vale a pena: ‘A vista é sensacional’”, pontua Danilo.
“Um visual lindo. Dá para ver o mar, não tão claramente e também depende muito do dia. Mas com a vastidão nos conectamos com a natureza”, acrescenta.
Outra dica do profissional é que o interessado tenha equipamentos adequados, como um tênis apropriado. Dias de chuva devem ser evitados, por conta do risco de quedas.
Ele assinala que, apesar da beleza, esse é um ponto turístico pouco explorado. “Poucas pessoas passam por lá em dias que não são de provas. Por isso, o cuidado também deve ser maior, já que, caso a pessoa sofra um acidente, pode ter dificuldade em chamar ajuda”, relata o ‘coach’.
Esse contato com a natureza vem acompanhado da busca por superação pessoal nas provas. No point, a largada geralmente começa dentro de um sítio. “Depois o ataque à pedra grande, subindo em partes bem íngremes”, conta Danilo.
Corredores de trilha têm um respeito muito grande pela natureza. “Nossa consciência sempre nos lembra de cuidar da mata. Corredores de trilha geralmente fazem ações de limpeza”, cita.
O esporte, avalia o professor, já não cresce mais tanto como antes. Apesar disso, ele relata ver um aumento constante nas pessoas interessadas em começar a praticar.
Danilo tem uma assessoria de corrida, tanto para o modelo convencional quanto para o de montanha. Hoje, tem 45 alunos assessorados, sendo que cerca de 40 fazem trail running. Esportista conhecido no segmento, ele coleciona provas dentro e fora do Brasil.
“A pessoa geralmente começa na corrida de rua, melhora, e depois parte para mais desafios, como o triatlo ou a corrida de montanha, que é um esporte relativamente novo no Brasil. Mogi tem muitos locais legais para treinar, com trilha técnica, estradão de terra, trilhas limpas”, incentiva.
Danilo começou no mundo das corridas há cerca de 10 anos. Logo no início, ele se apaixonou pela emoção e largou o emprego público na Sabesp. “Sempre fui do esporte. Com 32, 33 anos comecei a fazer corrida de rua. Antigamente, em Mogi, tinha uma corrida que chamava O Rei da Montanha. Participei e foi assim que eu conheci. Fui gostando e me encontrei nesse mundo. Saí do emprego para abrir uma academia no Rodeio e também a assessoria de corrida”, conta.
Mostrando que sempre é possível uma mudança positiva na vida, aos 38 anos ele ingressou na faculdade de Educação Física.
A corrida mudas vidas, como a dele: “é uma coisa surreal. É o momento em que me sinto mais perto de Deus. Essa conexão é muito gostosa”, relata.
É um esporte para todos os públicos: “Normalmente, quando as pessoas dizem que não gostam de correr é porque elas ainda não tiveram tempo de sentir os benefícios, que são tantos”, finaliza.
Provas em Mogi
Mogi tem provas anuais de trail running organizadas pela empresa a Itapetitrail. A organizadora surgiu em 2017. O responsável, Henrique Mendes Pereira, relata que existe crescimento na procura por esse tipo de competição.
“No Pico do Urubu já é tradicional. Na Pedra Grande temos (provas) desde 2019. Houve uma pausa na pandemia e agora vamos para o terceiro evento por lá”, conta Pereira.
Além do esporte, há a conscientização ambiental promovida antes do evento. “Vai além de falar para não jogar lixo e já foca pensando no retorno dessas pessoas aos locais posteriormente. Por exemplo, falamos para evitar áreas que ocorrem pesquisas científicas, não fazer fogueiras, etc.”, alerta.
A tendência é que as provas continuem no calendário de Mogi. “Até antes da pandemia, a gente vinha em um crescimento muito grande. A nossa primeira prova tinha 240 atletas. Já a segunda etapa foi para 550. Depois da pandemia a coisa deu uma paralisada, mas agora estamos sentindo um forte retorno”, comemora Pereira.
“2022 foi um aperitivo que a gente precisava entender com o que aconteceria com o trail pós pandemia: muita gente fora de forma ainda e pessoas optando em ir para provas de rua”, lembra o organizador. “Mas aí foi uma questão de tempo. Nesse ano o pessoal já retornou ”, diz.
A última prova da empresa foi em março, no Pico do Urubu e teve cerca de 500 atletas. “Para essa da Pedra Grande esperamos 700 atletas. A ideia é manter como uma tradição”, relata.
Etapa nacional
Segundo Pereira, para 2024, a prova realizada por eles no Pico do Urubu, na Serra do Itapety, foi homologada para ser uma etapa do Campeonato Brasileiro Skyrunning Brasil. Outras informações devem ser divulgadas em breve.
Em 2023, o Skyrunning National Series Brazil contou com um total de 7 provas em diferentes estados do Brasil, onde os atletas somam pontos.
“O Alto Tietê é um laboratório gigantesco. A diversidade é muito grande. A gente já tem até um percurso planejado na Serra do Itapeti de 70km. Estamos projetando fazer uma prova até o começo de 2025”, antecipa.
“A gente quer atrair cada vez mais pessoas para a cidade, trazer o pessoal para conhecer os pontos”, pontua.
Até o momento a ideia tem dado certo; isso é refletido nos competidores.
“Vem muita gente de fora, já veio gente de fora do Brasil. O público mogiano é em torno é cerca de 25% dos participantes”, conta.
Por fim, ele recomenda que as pessoas conheçam a modalidade: “No trail, você coloca a pessoa em contato com a natureza, trabalha a conscientização”, conta ele, com muito entusiasmo.
Trilhas do pico
Em fevereiro último, a Prefeitura de Mogi instalou uma placa que sinaliza oito trilhas que se iniciam no Pico do Urubu e, por meio de QR Code, apresenta a localização e informações sobre cada uma delas, como trajeto, distância, elevação e modalidade ideal de percurso: Trekking, Downhill (descida de bike em alta velocidade) e 4×4, por exemplo. O ponto turístico de Mogi pode ser o ideal para quem quer começar a fazer trilhas.
A iniciativa da Coordenadoria Municipal de Turismo tem como objetivo promover infraestrutura para prática do turismo sustentável, em parceria com a Secretaria de Segurança para proteção de turistas e munícipes que usam esses trajetos – com mais informações, o passeio fica mais seguro.
O Pico do Urubu tem três trilhas para a modalidade de Downhill, Trilha do Espelho I e II e Trilha da Onça, que foram estabelecidas pelos praticantes da modalidade. A Trilha da Onça completa 10 anos em 2023. O nome se deve à identificação de uma pegada do felino em meio à trilha.
A orientação é nunca fazer a trilha sozinho: é importante estar acompanhado de guias de turismo especializados. Recomenda-se que os percursos sejam utilizados por adeptos dos esportes de aventura com prática na modalidade de percurso ideal de cada trilha.
Todas as trilhas podem ser exploradas a partir do Pico do Urubu, com exceção da Trilha da Santa Terezinha, cujo acesso é pelo Jardim Aracy ou Estrada da Moralogia.