A saída de Bertaiolli da política deve impactar as eleições de 2024 em Mogi
A decisão do deputado federal Marco Bertaiolli (PSD) de deixar a política para ocupar uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) deve provocar uma mudança significativa no cenário eleitoral da cidade, com impacto imediato nas próximas eleições de 2024, segundo avaliação de políticos que cogitam disputar a Prefeitura de Mogi no […]
Reportagem de: O Diário
A decisão do deputado federal Marco Bertaiolli (PSD) de deixar a política para ocupar uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) deve provocar uma mudança significativa no cenário eleitoral da cidade, com impacto imediato nas próximas eleições de 2024, segundo avaliação de políticos que cogitam disputar a Prefeitura de Mogi no ano que vem.
Para a maioria deles, a nomeação do ex-prefeito para um órgão tão importante, responsável pelo controle e fiscalização de todas as contas públicas do Estado, é muito significativa para a cidade e fruto de reconhecimento do trabalho do deputado. Porém, admitem que Bertaiolli fora da política eleitoral abre uma “grande avenida” de oportunidades para quem está no páreo, além de tornar as próximas eleições mais concorridas e equilibradas, já que ele vinha dominando as pesquisas de intenção de votos feitas por partidos para entender a preferência do eleitorado mogiano.
A decisão de Bertaiolli de assumir a vaga no TCE pode favorecer candidaturas de adversários, como no caso do prefeito Caio Cunha (PODE), que a exemplo da eleição de 2020, estaria em grupos opostos ao do deputado nas eleições de 2024.
De acordo com o prefeito, o fato de o deputado ser o primeiro e único mogiano nessa posição é motivo de orgulho para Mogi das Cruzes, mas ele concorda que essa decisão vai influenciar as eleições municipais. “Bertaiolli teve 80 mil votos na cidade. Sua presença e participação em uma campanha favoreceria qualquer candidato”, avaliou Cunha, ao admitir que essa mudança de cenário pode beneficiar a sua virtual candidatura à reeleição. “Nenhuma eleição é fácil. Mas, convenhamos, se fosse para escolher um candidato adversário para campanha, ninguém que tenha um pouco de inteligência escolheria alguém com o perfil e histórico dele”, comentou.
Na lista preliminar de virtuais candidatos que querem disputar as eleições de 2024 com o prefeito Caio Cunha, constam, até o momento, os nomes do ex-vereador Rodrigo Valverde (PT), do biomédico Marcello Cusatis (Sem Partido), do deputado estadual Marcos Damasio (PL), do ex-prefeito Marcus Melo (Sem Partido), do advogado Marco Soares (REP), do ex-deputado estadual Luiz Carlos Gondim (União Brasil) e do vereador Pedro Komura (PSDB).
Existem muitas dúvidas e especulações a respeito de nomes como o de Cusatis, Marcus Melo e Damasio, que vão depender de uma decisão do PL, liderado pelo ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, que atua em conjunto com o PSD, e que antes de Bertaiolli ter sido indicado ao TCE, era um dos incentivadores do lançamento dele como candidato a um terceiro mandato como prefeito Mogi.
Sem o federal no páreo, Costa Neto, questionado em várias ocasiões sobre quem seria o nome cotado para assumir esse papel, disse que essa é uma decisão que vai ser tomada em conjunto pelo grupo no início do próximo ano, com base em resultados de pesquisas para entender quais os nomes que podem ter mais chances na disputa. Um dos mais cotados é Téo Cusatis que, inclusive, chegou a ser indicado por Bertaiolli para entrar na disputa com a mulher dele, Mara Bertaiolli, como vice na chapa. (Leia matéria ao lado).
Oportunidade
Além do prefeito Caio Cunha, a provável candidatura de Rodrigo Valverde, com apoio confirmado de outras legendas, como PSOL, PcdoB, PCB, PV, SD e Rede Sustentabilidade, também deve se beneficiar com a mudança na carreira política de Bertaiolli.
O ex-vereador, que sempre esteve em lado oposto a Bertaiolli na política, elogiou a trajetória de Bertaiolli e apontou as melhorias promovidas em diversas áreas durante os mandatos dele, elencando uma série de obras feitas na cidade com recursos que ele buscou junto ao governo federal do PT, na época, deixando de lado questões partidárias para priorizar a cidade. Isso, na opinião do petista, contribuiu para que Bertaiolli saísse “super bem avaliado” da Prefeitura, e fez dele “o maior nome eleitoral de Mogi”.
Segundo Valverde, Bertaiolli ocupa um espaço muito importante na política e a saída dele abre uma lacuna para a disputa das eleições do ano que vem. “Sem dúvida nenhuma, a saída dele, não só na condição de um eventual candidato em 2024, mas também de cabo eleitoral, porque a partir do momento que assume o Tribunal de Contas do Estado, ele não pode ser filiado a nenhum partido e nem ser cabo eleitoral, abre uma avenida para as outras candidaturas pretendentes ao cargo, e eu me incluo em uma dessas candidaturas. Então, o cenário fica em aberto”, avalia.
O advogado Marco Soares, que deve deixar o Republicano para tentar viabilizar a sua candidatura à Prefeitura, alega que diante da “relevância política” do deputado para a cidade, a sua ausência no cenário político terá efeitos positivos e negativos. Ele entende que a participação no TCE é positiva para Mogi e demais cidades do Estado “na medida em que teremos neste órgão de controle um julgador com o olhar sensível de quem já atuou intensamente na vida pública e conhece pessoalmente os problemas enfrentados pelos agentes políticos”.
De outro lado, Soares, opositor a Caio Cunha, lamenta a saída dele da vida política e eleitoral de Mogi e disse que esperava contar com seu apoio para uma virtual candidatura. “Atualmente, em razão dos evidentes problemas enfrentados pelo atual prefeito, ele seria um candidato imbatível ao executivo, o que seria ótimo para Mogi. Ou poderia apoiar um candidato, o que seria um ganho eleitoral relevantíssimo para o escolhido. Eu trabalhava para contar com esse apoio. Sua experiencia política e administrativa é indispensável para qualquer projeto eleitoral e de boa gestão administrativa”, ponderou.
O ex-deputado Luiz Carlos Gondim, que também já foi adversário de Bertaiolli em disputas eleitorais, e que tenta formar uma aliança com outras legendas para entrar na corrida pela Prefeitura, acredita que o ex-prefeito “deve ter perdido muitas horas de sono para tomar essa decisão de deixar uma carreira promissora na política para assumir o cargo no TCE, por mais importante que seja o órgão”.
“Deve ter sido uma decisão muito difícil para o Bertaiolli, com muita perda de sono, porque não é fácil uma pessoa eleita, que gosta de política, como ele gosta, desistir da carreira para ocupar outro cargo, que também não deixa de ser importante, mas com isso não vai mais poder ter decisão política, porque o cargo impede que ele se aproxime ou participe de campanhas eleitorais de agora em diante”, comenta Gondim.
O vereador Pedro Komura, “atualmente dedicado a reestruturar o PSDB de Mogi” também busca espaço para disputar as próximas eleições e diz que a saída de Bertaiolli “abre uma avenida de oportunidades para novas candidaturas”. Mesmo comandando um partido esvaziado na cidade, ele garante que a sigla vai lançar candidato próprio nas próximas eleições e não descarta a possibilidade de ser ele.
O ex-prefeito Marcus Melo é outro nome cogitado para disputar as próximas eleições. Ele conseguiu se eleger em 2018 pela primeira vez com a força política de Bertaiolli. A relação dos dois estremeceu depois de algum tempo e houve divergências nas últimas eleições municipais, que Melo perdeu para Caio Cunha. Existe uma tentativa de reaproximação com ajuda de integrantes do grupo do PL e PSD, mas Melo tem se mantido calado nos últimos tempos, evitando entrevistas.
Expectativa
Apesar da indefinição a respeito do nome que deve ser lançado pelo grupo do PL, o afiliado político de Bertaiolli, Marcello Cusatis, deixou claro que a saída do deputado da política eleitoral não significa enfraquecimento do grupo, “pelo contrário, estamos mais unidos que nunca”, garantiu o biomédico, que fala em surpresas para as próximas eleições. Ele também reafirmou que a decisão é do grupo, mas que se for escolhido, “está pronto” para entrar na disputa.
O deputado estadual Marcos Damasio (PL) é também um nome considerado forte dentro do grupo para se candidatar à Prefeitura de Mogi. Costa Neto já disse que ele não tem o perfil, mas o parlamentar não descarta a possibilidade.
A respeito da nomeação de Bertaiolli, o parlamentar afirma que “a Assembleia fez uma excelente indicação, por se tratar de uma pessoa extremamente capacitada para ocupar o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas de São Paulo”. Ele ressalta que essa indicação valoriza a cidade e a região.
Damasio também avalia que a saída do deputado federal da política “muda significativamente o cenário político cidade, pois o Bertaiolli tem força e representatividade política no município, sendo uma forte liderança”.
Sobre as próximas eleições municipais, o deputado e presidente do diretório municipal do partido disse que o partido vai avaliar os impactos dessa mudança de cenário eleitoral nos próximos meses, mas acrescenta que “politicamente, Mogi perde, com certeza”.
Ele disse que a mudança, no entanto, ajudará no lançamento de novas lideranças da cidade: “Vai acabar estimulando, pois abre-se uma lacuna que precisará ser preenchida”.
Ao ser questionado se as chances dele se candidatar a prefeito aumentaram, reafirmou: “Esse novo cenário não foi conversado ainda no partido, o que deverá ocorrer em breve”. (S.C.)