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Adeus Dadá, o funcionário do café que decidiu uma eleição na Câmara

Faleceu neste sábado (18), o ex-funcionário da Câmara Municipal de Mogi das Cruzes, Odair Teixeira da Silva, o Dadá, 67 anos, que estava internado no Hospital Santana tratando de problemas renais. Nas últimas horas, seu estado de saúde já era considerado gravíssimo pelos médicos. Ele estava submetido a uma intubação, mas permanecia consciente. Velado no […]

19 de março de 2023

Reportagem de: O Diário

Faleceu neste sábado (18), o ex-funcionário da Câmara Municipal de Mogi das Cruzes, Odair Teixeira da Silva, o Dadá, 67 anos, que estava internado no Hospital Santana tratando de problemas renais. Nas últimas horas, seu estado de saúde já era considerado gravíssimo pelos médicos. Ele estava submetido a uma intubação, mas permanecia consciente. Velado no Velório Cristo Redentor, ele será sepultado no Cemitério São Salvador neste domingo (19), às 10 horas por amigos e familiares.

Dadá vinha fazendo hemodiálise frequentemente, durante os últimos 12 anos. Nesta semana, entretanto, devido ao agravamento de seu estado de saúde, tornou-se impossível dar continuidade ao procedimento.

Querido ao extremo por todos da Câmara, ele recebeu, entre outras, as visitas do ex-vereador José Antonio Cuco Pereira e do prefeito Caio Cunha, ambos muito próximos de Dadá, quando eram vereadores. Foi o próprio Caio, juntamente com o vereador e médico Rubens Benedito Fernandes, o Bibo, quem concedeu a Dadá o título de Honra ao Mérito, no ano de 2013 – acesse aqui o projeto do título, que detalha a trajetória do ex-funcionário.

Nascido em Passos (MG), mas morador de Mogi desde os 8 anos de idade, Dadá foi aluno da Apae mogiana, onde estudou durante algum tempo. Aos poucos, com seu jeito especial, ele se tornou o queridinho de todos na Câmara, onde trabalhou entre 11 de março de 1983 até sua aposentadoria, em 1997.

VEJA TAMBÉM: Vereadores e o prefeito de Mogi das Cruzes, Caio Cunha (Podemos) lamentaram a morte de Dadá, que também era chamado de Dadazinho por conhecidos e amigos, como lembrou Caio em uma postagem nas redes sociais.

Presidente
O Dadá era uma espécie de faz-tudo na Câmara. Lotado junto ao cafezinho, ele atuava mesmo como officeboy dos vereadores, que sempre tinham um servicinho extra para ele fazer, quase sempre fora do prédio do Legislativo. 
Solícito, ele nunca enjeitava o trabalho que lhe dava oportunidade de passear um pouco pela cidade em horário de expediente e ainda receber algumas gorjetas.
O adulto com eterno jeito de criança costumava frequentar alguns gabinetes em especial, onde geralmente estavam os vereadores por quem tinha mais afeição. Cuco Pereira era um deles, a quem Dadá tratava como Seu Cuperê, unindo e eliminando sílabas, bem a seu modo.
E assim era ele. Um referencial dentro da Câmara de Mogi, numa época em que pessoas especiais não costumavam receber o mesmo tratamento que a legislação lhes garante nos dias atuais.
Mas o dia de maior protagonismo de Dadá no Legislativo e, certamente, um dos mais importantes de toda sua vida aconteceu quando lhe foi dada a oportunidade de decidir a eleição daquele ano para presidente da Câmara Municipal.
A história, quase surreal, aconteceu no final da década de 90, já com a vigência do voto aberto para a Mesa Diretora da Câmara. 
Os candidatos José Antonio Cuco Pereira e Norberto de Camargo Mangueira Engelender disputavam, voto a voto, a eleição para presidente da Casa a partir do próximo ano. 
Parada duríssima.
Com os 21 vereadores da época em plenário, teve início a primeira votação. 
Tudo muito dividido.
Um voto para cada lado e, ao final, um resultado inesperado: 10 votos contra 10 e uma abstenção, da vereadora Sônia Sampaio, à época do PT, que anunciou sua decisão de não votar em qualquer dos candidatos.
Conforme determinava o Regimento Interno da Câmara, o presidente Chico Bezerra anunciou o segundo escrutínio.
Cuco tremeu na base. Pouco tempo antes, ele havia se envolvido num entrevero com um grupo de petistas que havia tentado arrancar dele, a qualquer custo, uma declaração a respeito de um pedido de cassação apresentado por Sônia Sampaio contra o prefeito da época.
Sem qualquer aviso, o cinegrafista chegou com a câmera próximo ao rosto de Cuco, que a empurrou com uma das mãos. Era a senha para uma confusão que chegou a ter socos, pontapés e afins. 
Seria a hora de a vereadora dar o troco. E Cuco imaginou que ela fosse votar em Mangueira. 
Mas a vereadora manteve-se firme em sua convicção.
Terminada a votação, novamente 10 votos para cada um dos candidatos, com a petista mais uma vez se abstendo de votar.
A temperatura no plenário ia às alturas. E já chegava próxima da ebulição quando o presidente, adversário político de Cuco e eleitor de Mangueira, consultou o Regimento e sacramentou: a eleição seria decidida na bolinha, ou melhor, no sorteio.
Dois papéis, cada um com o nome de um concorrente iria para dentro de uma caixa de papelão e alguém ficaria encarregado de retirar dali o futuro presidente.
O presidente Chico Bezerra convidou o deputado estadual Chico Nogueira, presente à sessão, para decidir. 
Político experiente, Nogueira declinou. 
O sorteio poderia ser a senha para ele ficar mal com a chapa perdedora, não importando qual fosse.
O presidente decidiu, então, chamar um policial militar que fazia a segurança interna das galerias. 
E antes que ele decidisse, eis que o plenário foi “invadido” por quem? 
Pelo próprio Odair Teixeira da Silva, o Dadá, conhecido funcionário do café da Câmara, que pediu para fazer o sorteio. Não havia como lhe negar tal atribuição.
Dadá, então, enterrou a mão na “urna”, tirou um dos papéis e o entregou ao presidente.
Sem levantar os olhos para o desafeto, Bezerra sussurrou entre dentes: 
“Cuco Pereira”.
Terminava ali uma das mais insólitas eleições já ocorridas na Câmara de Mogi. 
Começava ali uma sólida amizade entre o novo presidente da Câmara e o jovem Dadá, aquele que, bem a seu modo havia decidido o novo comandante do Legislativo.

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