Diário Logo

Encontre o que você procura!

Digite o que procura e explore entre todas nossas notícias.

Afrodescendentes celebram o Natal como uma forma de aproveitar as boas energias do fim de ano

“A minha história se mistura com a de muitos brasileiros”, é o que afirma Lindemberg Aguimar Alves ao resgatar uma parte de sua trajetória. Ele tem em seu sangue e em seus traços a afrodescendência, de onde vem também a sua religião. Sacerdote do candomblé de Angola, ele explica que dentro desta religião de matriz […]

23 de dezembro de 2023

Reportagem de: O Diário

“A minha história se mistura com a de muitos brasileiros”, é o que afirma Lindemberg Aguimar Alves ao resgatar uma parte de sua trajetória. Ele tem em seu sangue e em seus traços a afrodescendência, de onde vem também a sua religião. Sacerdote do candomblé de Angola, ele explica que dentro desta religião de matriz africana o Natal é celebrado como uma maneira de aproveitar as boas energias que são emanadas durante este período do fim do ano.

“O candomblé não tem datas comemorativas, porque o Brasil foi colonizado por ingleses e portugueses que trouxeram o cristianismo ao país. Então, o que fazemos nessas datas é reunir nossas famílias e comemorar à nossa maneira. O Natal é uma data energeticamente muito positiva, porque as pessoas se unem com amor, carinho e dedicação. Então, para o candomblé congo-Angola,  que trabalha tanto com a energia da natureza, quando com a energia humana, essas datas são muito positivas”, diz.

Lindemberg tem hoje um terreiro que funciona em Jundiapeba, chamado Inzo Nkosi Ria Mukumbi, ou, traduzido, Casa de Nkosi Mukumbi. Por lá, assim como em outros espaços de candomblé, as celebrações do final do ano começam no início de dezembro e vão até próximo do dia 20. A ideia é que os frequentadores que têm famílias mistas, com pessoas de outras religiões, sejam livres para comemorar o dia 25 ao lado dos familiares.

“Nós respeitamos a individualidade das pessoas e elas têm total liberdade para celebrar como quiserem. Então, quem tem a família inteira dentro do candomblé vai estar nos nossos ritos, vai celebrar com a gente. E quem tiver familiares de outras religiões também poderá aproveitar. Então, no dia 25 não fazemos nada e, antes disso, próximo ao dia 20, nós entramos em recesso e voltamos depois do ano novo”, ressalta o sacerdote.

Ele conta ainda como funciona a celebração durante o mês de dezembro. Além das rezas e ritos, o terreiro recebe uma reunião que funciona como uma ceia, denominada kibane. Diferente das ceias mais tradicionais, o kibane é composto – em sua maioria – por pratos doces, já que o objetivo é trazer bons sentimentos.

Entre os pratos preparados para essa reunião estão o pudim de leite condensado e o manjar (veja a receita nesta reportagem). O manjar, inclusive, é dedicado para Kaiala, que é a divindade do mar e dos oceanos. Outros doces, como suspeito, doce de abóbora e pé de moleque, também são servidos, além de cestas de frutas. Um peixe feito na folha de bananeira está entre os poucos pratos salgados das celebrações. 

No período, ainda é feito o “sakulu pemba”, uma limpeza no terreiro e do local aonde ficam os santos. Mas há também a parte social. Na casa liderada por Lindemberg funciona também a Afrontarte – Associação Afro-brasileira de Cultura e Arte. Eles, então, arrecadam alimento e brinquedos para que tudo seja doado para a comunidade nessa época de festas.

“Dentro dos preceitos do candomblé, a comida está presente em quase todos os nossos rituais, porque ela é algo muito sagrado pra gente. Então, por meio da comida a gente reverencia nossas entidades, os nossos sagrados. Nós chamamos de ‘comida para cabeça’ e dividimos isso com a comunidade, porque é uma maneira de alimentar o corpo e alma e de estar mais próximo do sagrado, dos nossos irmãos”, afirma Lindemberg.

História

De descendência africana por parte de mãe e portuguesa por parte de pai, Lindemberg Aguimar Alves diz que saber exatamente de qual país da África vieram seus ancestrais é um registro complicado. Pelo que já pesquisou, acredita que tenham vindo de uma região próxima aonde hoje é o Sudão. O que ele sabe é que, na chega ao Brasil, a bisavó foi escravizada na Bahia.

E é nessa vinda ao país que ele acredita que sua história se mistura com a de muitos brasileiros. A mãe dele, Givaldina Silva, foi uma mulher preta que criou sozinha seus cinco filhos. Lindemberg nasceu em São Miguel Paulista, mas veio para Mogi das Cruzes entre os anos de 1994 e 1995, junto com a mãe e os irmãos.

“Foi aqui que eu tive meus quatro filhos e meu neto, foi aqui que construí minha família. Também foi em Mogi que eu cresci a maior parte da minha espiritualidade. Primeiro, passei 16 anos na umbanda e agora já estou há quase 15 no candomblé. Me iniciei na religião, me tornei sacerdote e abri minha casa. A minha mãe já não está mais entre nós e agora ela faz parte da nossa espiritualidade e essa ancestralidade é sempre reverenciada”, afirma Lindemberg.

Além de sacerdote do candomblé, ele é também pedagogo e ativista coordenador do Movimento Negro Unificado (MVU). Em Mogi, já fez parte também do movimento hip hop e do movimento cultural.

Veja Também