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Aos 93 anos, morre o desportista e professor Ery Brasil de Siqueira

Foi sepultado, às 11 horas desta quarta-feira (27), no Cemitério São Salvador, o corpo do advogado, professor aposentado de Educação Física e desportista mogiano Ery Brasil de Siqueira, 93 anos. Ery faleceu, na noite de terça-feira (26), no Hospital Luzia de Pinho Melo, no Mogilar, onde estava internado para tratar de complicações provocadas por uma […]

27 de dezembro de 2023

Reportagem de: O Diário

Foi sepultado, às 11 horas desta quarta-feira (27), no Cemitério São Salvador, o corpo do advogado, professor aposentado de Educação Física e desportista mogiano Ery Brasil de Siqueira, 93 anos.

Ery faleceu, na noite de terça-feira (26), no Hospital Luzia de Pinho Melo, no Mogilar, onde estava internado para tratar de complicações provocadas por uma forte gripe. A causa de sua morte, segundo familiares, ocorreu por falência múltipla de órgãos.

Ele foi casado com dona Cecília (já falecida) e deixa os filhos Márcia, Ery e Marcos, além de netos e bisnetos. Ery era cunhado de José Carlos Miller da Silveira, o Professor Tuta, que dá nome ao Ginásio Poliesportivo do Mogilar, e irmão de Márcia Brasil, muito conhecida entre a sociedade mogiana.

Ery foi um grande desportista da cidade, onde jogou vôlei e, principalmente, futebol pelo União Futebol Clube e XI da Saudade, entre outras equipes. Era considerado um excelente atleta. Chegou a fazer parte de antigas diretorias do União. Atuou como professor de Educação Física em estabelecimentos de ensino de Suzano e Mogi.

Ele também era torcedor fanático do São Paulo FC e comemorou, ao lado de amigos e familiares, a mais recente conquista de seu clube, a Copa do Brasil, vencida neste final de ano.

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Entrevistas de Domingo

Com o título “Um esportista nato”, este jornal publicou, em 17 de julho de 2008, uma entrevista concedida por Ery Brasil de Siqueira, à jornalista Carla Olivo, dentro da série “Entrevistas de Domingo”. Acompanhe a história de Ery:

“Já diz o ditado: ‘Filho de peixe, peixinho é’. Com Ery Brasil de Siqueira não foi diferente. Filho do esportista Antonio Fernandes Siqueira, o Bororó, ele tem sua vida marcada pela dedicação a várias atividades esportivas praticadas na Cidade e também em campeonatos que disputou representando Mogi das Cruzes. Jogou vôlei, basquete e handebol, fez atletismo, natação, mas bastam poucos minutos de conversa para perceber que sua grande paixão sempre foi o futebol. Levado por esta vocação, fez parte da equipe juvenil, adulta amadora e também da profissional do União Futebol Clube. Já veterano, integrou o XI da Saudade, de 1963 a 1980, dividindo o campo com estrelas de times da 1ª Divisão. Além da prática constante de esportes, Ery, depois de concluir a Escola Normal de Mogi, formou-se em Educação Física pela Universidade de São Paulo (USP) e lecionou 30 anos na rede estadual, 43 anos na Escola Técnica Estadual Presidente Vargas (ETE) e mais 24 anos na Faculdade de Educação Física da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Em entrevista a O Diário, ele revive a época áurea do União e compartilha com o leitor suas histórias vividas na cidade.

Sua família é tradicional na cidade…

Sou paulistano de nascimento, mas nasci em São Paulo por coincidência. Minha mãe (Iracema Brasil de Siqueira) foi visitar uma tia e por isso acabei nascendo lá. Mas depois de uma semana já estava na nossa casa, em Mogi. Toda minha família é daqui. Meu pai (Antônio Fernandes de Siqueira, conhecido como Bororó) trabalhava como tesoureiro da Prefeitura Municipal, acompanhou vários prefeitos e ali se aposentou. Ele começou como administrador do Mercado Municipal e depois passou a fiscal da Prefeitura, até assumir a tesouraria. Tenho 5 irmãos: José, conhecido como Zito; Antonio, o Tonico; Therezinha, Sonia e Maria da Penha.

Sua mãe foi professora de muitos mogianos, não é mesmo?

Ela era professora do 2º Grupo Escolar Aprígio de Oliveira e tive oportunidade de estudar com ela no 4º ano primário. Também era muito conhecida na Cidade por causa do Curso Preparatório Santana, que montou numa casa da Rua Professor José Bonifácio, ao lado da residência da família Veríssimo de Melo. Depois, ela teve a professora Jovita Franco Arouche como sócia. Até hoje, muita gente lembra da minha mãe por causa deste curso, que preparava os alunos para o Exame de Admissão ao Ginásio.

 

Era realmente muito disputado o ingresso no Ginásio do Estado?

A luta era dura para estudar lá porque, naquela época, não havia muitas escolas e o Ginásio do Estado recebia alunos de Mogi, Suzano, Poá, Biritiba Mirim, Salesópolis e de outras cidades da Região que vinham fazer o Exame de Admissão a fim de conseguir uma vaga lá. Então, a disputa era muito acirrada.

 

Quais lembranças ficaram guardadas de sua infância na cidade?

Minha família sempre morou no Centro de Mogi e passamos 18 anos na casa que ficava na Rua Dr. Paulo Frontin, 400, esquina com a Capitão Manoel Caetano. Eu fazia parte da turma do Largo da Matriz e vivíamos por ali, brincando e caçando passarinhos. Lembro que a Rua Otto Unger ainda era de terra. Aliás, passando do Largo do Carmo, só havia o cemitério e muito mato. Também eram só capim e pouquíssimas casas depois do local onde funcionou a NGK, na Flaviano de Melo.

 

O senhor estudou no 2º Grupo Escolar. Como foi esta época?

Naquele tempo era raro ver um homem lecionando e eles ficavam mais como diretores. Na sala de aula, a maioria era professora. Fui aluno da dona Marieta Chichilo, cujo marido tinha uma sapataria na Rua Coronel Souza Franco, da dona Carminha, dona Sebastiana e da minha mãe. Depois, fiz o Ginásio Estadual, onde hoje é a Escola Washington Luís.

 

Como era a professora Iracema Brasil de Siqueira na sala de aula?

Ela era severa, exigente e rígida a ponto de trazer os alunos mais fracos para dar aulas particulares de graça, na nossa casa. Minha mãe queria que todos aprendessem de verdade, então não media esforços para isso. Até hoje, quem foi aluno dela não se esquece da professora Iracema. Ela era adorada. No primeiro mandato do Waldemar (Costa Filho, ex-prefeito), ele a levou para ser a chefe da Merenda Escolar e, como minha mãe também era poeta, ela fez o hino das merendeiras. Enquanto o Waldemar estava na direção do Município, ela trabalhou lá até falecer, em 1975. De tão conhecida na Cidade, sua morte causou um grande constrangimento aos mogianos e seu nome foi colocado em escolas estadual e municipal, rua e na biblioteca da escola do Rodeio.

 

E depois do Ginásio?

Tínhamos três opções: Clássico, Científico e Escola Normal. Como eu era esportista e já pensava em estudar Educação Física, fiz a Escola Normal e me formei professor. De lá, influenciado por nosso professor Hugo Ramos, fui estudar Educação Física na USP (Universidade de São Paulo). Este curso só existia lá ou em Bauru. Então, viajava para a Capital com um grupo de amigos formado por Alfredo de Andrade, conhecido como Una e que jogou na Seleção Paulista de Vôlei; o Tuta (José Carlos Miller da Silveira); meu irmão Tonico (Antonio Fernandes de Siqueira), que foi jogador do União Futebol Clube; além do Jairo Camorim Gatti, Sebastião de Melo Freire e Wilson Nogueira.

 

Vocês viajavam com o subúrbio?

Durante um período íamos e voltávamos de subúrbio, mas depois começamos a viajar no chamado Mogizão, que era um ônibus com saída da antiga rodoviária, hoje Praça Firmina Santana, e que seguia para São Paulo passando por São Miguel, Itaim, Penha, até chegar ao Brás. De lá pegávamos outro ônibus até o Parque do Ibirapuera porque, como ainda não existia a Cidade Universitária, as aulas de Educação Física aconteciam lá. Foi difícil conseguir estudar na USP porque eram somente 50 vagas para homens e a mesma quantidade para as mulheres de todo o Estado de São Paulo. Mas, apesar dos 4 mil candidatos, toda nossa turma de Mogi se classificou. Fiquei em 8º lugar, o Wilson em 3º e o Tuta em 5º.

 

Quais eram as distrações entre os jovens de sua época na Cidade?

Como não havia muito o que fazer aqui, aos sábados e domingos nós sempre íamos aos cinemas Park, Odeon e, mais tarde, ao Urupema. Também frequentávamos as matinês e jogávamos futebol. Não havia televisão e as pessoas costumavam participar da missa das 10 horas de domingo, na Catedral. Havia ainda as matinês dançantes no Itapeti Clube e à noite, os bailes no mesmo local. Os homens usavam terno e gravata borboleta. Também aos domingos, a rapaziada saía de casa impecável para dar voltas no jardim da Praça Oswaldo Cruz, onde comumente os namoros tinham início.

 

Foi assim que o senhor conheceu sua esposa?

Já tinha visto a Cecília, que é filha do comerciante Gregório Penha, lá no jardim, mas começamos a namorar em um casamento entre famílias tradicionais em Mogi. A noiva era filha do Chico Russo. Na época, a noiva chamou 10 moças que eram suas amigas para entrarem como damas de honra. A Cecília foi uma delas. Estávamos em 1952, o namoro teve início ali e nos casamos em 1957. A cerimônia religiosa foi na Catedral e passamos a lua de mel, como era tradição naquele tempo, no Rio de Janeiro, que não era como hoje e onde ficamos uma semana. No ano passado comemoramos bodas de ouro.

 

Como teve início sua carreira no Magistério?

Lecionei Educação Física na ETE (Escola Técnica Estadual Presidente Vargas) desde que ela foi criada na Cidade, ainda pela Prefeitura, e lá permaneci durante 43 anos. De início, a escola funcionava perto do Batalhão (17º Batalhão da Polícia Militar), no prédio que até há pouco tempo abrigava um bingo. Eram somente três salas de aula e as oficinas ficavam na área do antigo supermercado Mogiano. Entre estes dois pontos montei a quadra de esportes. Foi assim até que o Estado assumiu a ETE e a transferiu para o local onde está até hoje, na Rua Coronel Cardoso de Siqueira, ao lado do Washington Luís.

 

E as aulas no Estado?

Ficávamos esperando a abertura dos concursos para vagas de professor definitivo. Enquanto isso, dei aulas no antigo Liceu Santo Antonio, em Suzano. Em 1966, quando já tinha 10 anos de formado, foi aberto um concurso com 11 vagas de professor de Educação Física para todo o Estado. Nesta época já estava casado, tinha filhos e peguei o terceiro lugar. O primeiro colocado escolheu Campinas, o segundo ficou com Presidente Prudente e eu optei por Mirandópolis porque as outras cidades eram ainda mais distantes. Assumi a cadeira, fiquei 15 dias lá e como tinha deixado minha família em Mogi, vim para cá por força política.

 

Como assim?

Conhecia o deputado estadual Chiquito Franco (Francisco Franco), que era irmão da Jovita Franco. Então, fui conversar com ele em São Paulo e pedi ajuda. Além disso, eu era amigo do prefeito Waldemar e ele tinha um conhecido que trabalhava na Secretaria de Estado da Educação, o Ângelo. Ele me arrumou uma vaga de diretor substituto em Arujá. Mesmo assim, minha cadeira continuou em Mirandópolis esperando um concurso para remoção. Foi aí que a trouxe para Salesópolis e, no segundo concurso, a removi para Suzano.

 

Onde o senhor lecionou em Suzano?

Dei aulas no Geraldo Justiniano de Rezende e, já no terceiro concurso para remoção, consegui vir para Mogi, na época em que começaram a surgir mais escolas aqui. Trabalhei no Firmino Ladeira, onde fiquei 7 anos e, em seguida, fui para o Washington Luís. Na época, precisava trabalhar numa escola que tivesse 44 aulas disponíveis, então fiquei com 22 do Estado e mais 22 na ETE para poder me aposentar nos dois empregos. Por causa dos pontos que tinha, consegui o primeiro lugar na Escola Pedro Malozze e, após 2 anos lá, me aposentei com 30 anos de Estado. Além disso, fiquei 24 anos lecionando as disciplinas Futebol e Natação na UMC (Universidade de Mogi das Cruzes) e, mesmo depois de aposentado, ainda continuei na ETE.

 

O senhor é formado em Direito. Chegou a exercer a advocacia?

Além da Educação Física na USP, sou da primeira turma de Direito da UBC (Universidade Braz Cubas) e também quase terminei a Faculdade de Filosofia, Geografia e História, em Taubaté. Não peguei o diploma deste último curso, mas cheguei a dar aulas destas disciplinas. Exerci a advocacia durante 4 anos em Mogi, num escritório que ficava na Rua Braz Cubas esquina com a Barão de Jaceguai. Mas depois disso, como dava aulas em três escolas, do Direito ficou somente o anel, que uso até hoje.

 

Como foi seu envolvimento com os esportes?

No tempo do Ginásio, ainda com 11 anos, praticava basquete, vôlei, handebol e atletismo. Na época, os estudantes faziam o esporte da Cidade e disputavam campeonatos municipais e estaduais. Fiz parte da seleção mogiana de vôlei e, no atletismo, me destacava no salto em extensão e triplo, além de correr os 400 metros. Participava dos Jogos Abertos e também dos Regionais.

 

E futebol?

Joguei no time juvenil do União Futebol Clube, em 1946, como meia esquerda. Minha camisa era a de número 10. Em 1947, ia assistir aos jogos do profissional e lembro que o time era fantástico, foi campeão municipal, regional e quase estadual. Um ano depois passei para a equipe amadora e, no final de 1949, era titular no time profissional do União. Já em 1951, a equipe passou a jogar na 2ª Divisão de profissionais. Esta era a época em que futebol era futebol mesmo e não precisávamos contratar gente de fora da Cidade. Havia um ou dois reforços, no máximo.

 

Quem também jogava no União nesta época?

Jogava com Barbosinha Urbano, Jarbas, Darci Branco, Nei Paiva, Gibi, José Luiz de Castro, Boião (Heros Brasil, Jaqueta, além do goleiro Careca. Fiquei na equipe profissional por 11 anos e duas vezes cheguei às semifinais.

 

Ficaram mais lembranças do União?

Nas comemorações do aniversário do Clube, em 7 de setembro, sempre recebíamos um time da 1ª Divisão. O Corinthians, com Baltazar, Cabeção e Luizinho, veio em 1953. Depois que deixei de jogar no time, ainda fui diretor técnico e há 30 anos sou conselheiro. Na época em que ocupei a vice-presidência, cheguei a substituir o Milton Alves, que era presidente.

 

Como o senhor avalia a situação do União hoje?

Há quatro presidentes culpados pela situação que o União enfrenta hoje. Até há 10 anos ainda havia uma história para contar, mas agora, as dívidas trabalhistas chegam a R$ 1,2 milhão e não há como pagar isso.

 

E sua participação na seleção mogiana de vôlei?

A nossa seleção era a terceira melhor do Estado, perdendo apenas para Santos e Jundiaí. Eu era reserva e na época, o time contava com Una, José Camorim Gatti, Cavalinho (Carlos Alberto), José Pinheiro Franco, Romão, Miguel Nagib, José Abel e Wilson Nogueira.

 

O senhor também jogou futebol no XI da Saudade?

Fiquei no XI da Saudade desde sua fundação, em 1963, até 1980. Nós jogávamos no campo do União, na Rua Casarejos, no Mogilar, aos sábados à tarde. Vários times da 1ª Divisão de São Paulo vinham jogar conosco e lembro que no dia em que o Garrincha (Manoel dos Santos) esteve aqui, tinha gente pendurada até nos postes de iluminação do campo para assistir à partida.

 

Hoje, qual sua distração?

Sou torcedor do São Paulo, sócio do Clube de Campo e por 25 anos fui conselheiro de lá também. Até há 2 anos ainda jogava futebol, mas hoje frequento o Clube e jogo bocha.

 

De família tradicional na cidade e com muitos conhecidos, o senhor nunca se aventurou na política?

Nunca quis me candidatar, apesar de ser convidado em quase todas as eleições, inclusive nesta. Discuto política e até trabalho para alguns amigos, mas pela educação que recebi da minha família, tenho medo de ser eleito, sair na rua e ser visto como aproveitador por alguém. Então, prefiro ficar de fora”.

 

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