Vítima de pneumonia e Covid-19, pároco Francisco Deragil morre aos 53 anos
A Diocese de Mogi das Cruzes confirmou na tarde desta terça-feira (8), o falecimento do padre Francisco Deragil de Souza – pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Roque, no distrito de Braz Cubas. Aos 53 anos, o religioso foi vítima de complicações de uma pneumonia e diagnosticado com o novo coronavírus nesta segunda-feira […]
Reportagem de: O Diário
A Diocese de Mogi das Cruzes confirmou na tarde desta terça-feira (8), o falecimento do padre Francisco Deragil de Souza – pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Roque, no distrito de Braz Cubas. Aos 53 anos, o religioso foi vítima de complicações de uma pneumonia e diagnosticado com o novo coronavírus nesta segunda-feira (7). Ele estava entubado, com ventilação mecânica e recebendo tratamento por meio de antibióticos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Jardim Santa Helena, em São Miguel Paulista.
O pároco foi o responsável pelo impulso às obras de construção do santuário de Nossa Senhora Aparecida, por meio de ações sociais e festas religiosas.Trabalho social como importante instrumento para mudar a vida de pessoas diante das mais difíceis situações. Esta é a filosofia seguida pelo padre.
A Diocese de Mogi divulgou uma segunda nota oficial nesta tarde. Veja a íntegra do documento:
“Com muito pesar, comunicamos o falecimento, aos 53 anos, do Pe. Francisco Deragil de Souza, pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Roque, no distrito de Brás Cubas, em Mogi das Cruzes (SP), na tarde de hoje, dia 08 de dezembro, em decorrência de complicações de uma pneumonia e a contaminação pelo vírus da Covid-19.
Pe. Francisco Deragil de Souza nasceu em Serranos (MG), em 19 de outubro de 1967. Foi ordenado sacerdote na Diocese de Mogi das Cruzes, em 01 de maio de 1998, pelas mãos de Dom Paulo Mascarenhas Roxo, Opraem. Trabalhou como presbítero nas paróquias Nossa Senhora dos Remédios, no distrito de Remédios, em Salesópolis; Santa Cruz – Capela do Ribeirão, em Taiaçupeba, Mogi das Cruzes; Nossa Senhora da Paz, na Vila da Prata, em Mogi das Cruzes; e desde 2001, estava na Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Roque, no distrito de Brás Cubas, em Mogi das Cruzes. Também, era o coordenador da Pastoral Presbiteral.
O sacerdote foi internado há 15 dias no Hospital Jardim Helena, em São Miguel Paulista, em São Paulo (SP), com um quadro grave de pneumonia. Os primeiros testes para verificar se estava com infectado com a Covid-19 foram negativos, apenas o último resultado que saiu na segunda-feira, dia 07, apontou o contágio pelo novo coronavírus.
Seguindo os protocolos sanitários, não será possível realizar o velório e o sepultamento (em horário a confirmar) no Cemitério da Saudade, em Brás Cubas, vai ser restrito a poucas pessoas, entre eles, os familiares, o bispo diocesano, Dom Pedro Luiz Stringhini, e alguns representantes do clero de Mogi das Cruzes.
Uma singela forma de despedida do querido e já saudoso Pe. Francisco Deragil de Souza será através da oração. Com início nesta noite e prosseguindo amanhã, dia 09, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Roque, haverá missas durante todo o dia (programação completa será publicada em breve), sempre com atenção aos cuidados e as orientações das autoridades de saúde, como o uso obrigatório de máscaras e a não aglomeração de pessoas, respeitando a capacidade de 40% da capacidade da Igreja.
Nos unimos em oração pelo descanso eterno do Pe. Francisco Deragil de Souza, pelo conforto dos familiares, do nosso bispo e clero diocesano.
“O padre Deragil, além de ser a bondade em pessoa, que cativava a todos com seu bom humor e simpatia, tinha uma história de luta, trabalho e muita fé para tornar nossa Mogi uma cidade melhor”, lamentou nas redes sociais o atual prefeito de Mogi das Cruzes, Marcus Melo (PSDB).
No dia 16 de abril de 2017, Deragil foi entrevistado por O Diário, onde destacou sua atuação social. Leia a íntegra da matéria:
Um padre com foco no social
Trabalho social como importante instrumento para mudar a vida de pessoas diante das mais difíceis situações. Esta é a filosofia seguida pelo padre Francisco Deragil de Souza, que há 15 anos à frente da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Roque, em Braz Cubas, atribui à atual sociedade de exclusão problemas como aumento da violência e da criminalidade, desestrutura familiar, dependência química e afastamento da Igreja e da comunidade. Mineiro da pequena cidade de Serranos, no sul de Minas Gerais, ele descobriu a vocação para o sacerdócio ainda na infância, quando se tornou coroinha. Aos 14 anos, ingressou no Seminário São Camilo, da Congregação dos Padres Camilianos, no Rio de Janeiro, onde concluiu o curso ginasial. Em seguida, fez o colegial em Monte Santo (MG) e o propedêutico na Diocese de Campanha (MG). O próximo destino foi Mogi das Cruzes, onde está há 27 anos e formou-se em Filosofia no antigo Instituto de Filosofia da Diocese de Mogi e em Teologia na primeira turma da Faculdade de Filosofia e Teologia Paulo VI. Em 1999, foi ordenado padre pelo então bispo dom Paulo Mascarenhas Roxo. Trabalhou em Salesópolis e Taiaçupeba antes de assumir a paróquia em Braz Cubas, onde comanda as obras de ampliação, as festas religiosas que atraem grande público, como a do Divino Espírito Santo do Distrito, e projetos sociais destinados às famílias de baixa renda, moradores de rua, desempregados, alcoólatras, entre outros. Em mente está a construção de um centro de recuperação com capacidade para atender a 60 dependentes químicos. Na entrevista a O Diário, o padre destaca a importância da Páscoa, comemorada neste domingo, fala sobre os projetos sociais da paróquia e conta histórias vividas na Cidade:
Como foi a infância em Minas Gerais?
Tive uma infância tranquila, em uma família numerosa, já que meus pais (Sebastião Silveira, que morreu aos 75 anos, e Nilda da Conceição, que está com 85 anos e mora em Aparecida) tiveram 12 filhos (José Pedro, Paulo, Fátima, Diober, Jorge, Maria Divina, Maria das Dores, Ângela, Sebastião, Nivaldo, Francisco e Shirlei). Nasci em Serranos, cidadezinha do sul de Minas Gerais, onde iniciei meus estudos no primário, seguido pelo curso ginasial. Aos 12 anos, fui ser coroinha na igreja da cidade, onde ajudava o padre no altar durante as missas e senti o chamado de Deus para também me tornar padre.
Quando o senhor foi para o seminário?
Uma vez, um padre veio de Curitiba (PR) visitar a escola que eu estudava e perguntou qual era a vocação de cada aluno. Eu respondi que queria ser padre e, após dois meses, ele voltou, foi me visitar em casa e disse que tinha ido me buscar para levar ao seminário. Mas estava no meio do ano na sexta série do ginásio e disse que no ano que vem entraria para o seminário. E foi isso o que fiz quando estava com 14 anos, acompanhado por dois amigos da minha cidade. Fomos para o Seminário São Camilo, da Congregação dos Padres Camilianos, no Rio de Janeiro. Eu estava acostumado com a cidade pequena e estranhei com o Rio, onde fiz a sétima e oitava séries.
Como foi a vinda para Mogi das Cruzes?
Do Rio fui para Monte Santo, uma cidade pequena no sul de Minas Gerais, e lá terminei o segundo grau. Em seguida, entrei para a Diocese de Campanha, também em Minas, onde fiz o propedêutico, que é um serviço vocacional com duração de um ano, mas não me adaptei lá e como tinha um amigo, o padre Lázaro, que estava no seminário de Mogi, fiz contato com ele e vim para cá. Isso faz 27 anos. Aqui estudei Filosofia no Instituto da Diocese, que funcionava na Catedral de Santana. Depois, quando estava para fazer a Teologia, só havia o curso em São Paulo e era cansativo viajar para lá todos os dias, então, o bispo da época, dom Paulo (Mascarenhas Roxo), percebeu a necessidade de criar a faculdade em Mogi, que começou no Tabor. Lá fiz os três anos de Teologia e me formei na primeira turma da Faculdade Paulo VI, que hoje funciona no Mogilar. Fui ordenado padre em 1999 pelo bispo dom Paulo.
Onde o senhor trabalhou antes de chegar a Braz Cubas?
Primeiramente fui para Salesópolis e trabalhei quatro anos nas paróquias São José e Nossa Senhora dos Remédios. Depois, fiquei mais três anos na Paróquia Santa Cruz, em Taiaçupeba, e como surgiu a vaga na Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Roque, em Braz Cubas, vim para cá com o objetivo de ficar seis anos e já estou há 15.
Quais são os principais projetos na área social?
Temos um trabalho na Vila Estação destinado às famílias mais humildes da paróquia. No ano retrasado, construímos lá a Igreja de Santo Antônio, onde celebro missas todos socialos sábados e desenvolvemos atividades, como a distribuição de sopas às famílias nas sextas-feiras e a festa de Natal, com entrega de brinquedos às crianças. Outro trabalho forte é a Casa de Assis, que acolhe moradores de rua em duas unidades. A da Avenida Japão recebe os homens e a da Vila Jundiaí atende as mulheres nesta situação. Aqueles que já fizeram a caminhada pela Casa de Assis são transferidos para uma chácara em Taiaçupeba. Temos um trabalho de orientação psicológica e suporte a esta população que vem sendo cada vez mais aprimorado. Desta forma, colhemos frutos como pessoas recuperadas, que voltam para suas famílias e à vida em sociedade. Este é um trabalho muito gratificante na nossa paróquia.
Por que o senhor investe no trabalho social?
Esta é uma grande preocupação porque acredito que um gesto de amor faz diferença na vida das pessoas a fim de que se esforcem para sair da difícil realidade em que vivem, da violência, das drogas, do desemprego, enfim… Devemos fazer tudo o que pudermos para elas, as acolhendo e contribuindo para que suas vidas possam ser diferentes. Este compromisso existe na sociedade, mas de forma ainda muito tímida e sinto que poderia e deveria ser maior. Infelizmente, vivemos em uma sociedade de exclusão e falta este trabalho, este gesto de amor para ajudar as pessoas, a fim de se sintam amadas, fortes e capazes de enfrentar as situações difíceis da vida. A igreja se esforça para inseri-las na sociedade, mas a sociedade também deve fazer a sua parte.
Há outras atividades com esta finalidade na paróquia?
Fizemos recentemente uma campanha para receber currículos de desempregados e tivemos mais de 500, que foram cadastrados e encaminhados para os possíveis locais de trabalho. O desemprego é assustador nos dias de hoje porque temos mais de 13 milhões de pessoas fora do mercado, o que dá origem a problemas sérios, como consumo de álcool, drogas, aumento da violência e desestrutura familiar. Ainda na paróquia, temos as pastorais da Sobriedade, que atende os alcoólatras; da Catequese, direcionada a crianças e adolescentes; da Juventude; da Família; entre outras, que desenvolvem importantes trabalhos.
O senhor tem novos projetos?
A cabeça da gente não para, mas o principal projeto é terminar a ampliação da igreja, o que deve acontecer no próximo ano. Agora estamos na fase de acabamento e de construção das torres da frente. Depois, temos que fazer um salão paroquial e o centro pastoral para a catequese e as pastorais. Mas há outros trabalhos em mente, como o sonho de implantar um projeto para os idosos a fim de garantir maior integração deles na paróquia e a construção da Casa de Recuperação Maranathá, destinada ao atendimento de 60 dependentes químicos. Já temos o terreno e o projeto para este serviço de acolhimento, que é uma demanda que ainda precisa ser melhor atendida na Cidade porque a igreja sempre recebe familiares e, principalmente, pais que enfrentam este problema com os filhos e não sabem a quem recorrer. Como não temos para onde encaminhá-los, também ficamos de mãos amarradas, sem poder ajudar. Além disso, ainda em breve vamos realizar um almoço ou jantar em prol da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Mogi, que participa com uma barraca na nossa Festa do Divino. Recentemente, fui a um culto ecumênico lá e vi a dificuldade que estão enfrentando para manter um serviço tão importante na Cidade.
De que forma as festas religiosas aproximam as pessoas da igreja?
A Festa do Divino, por exemplo, está na décima sexta edição e cresce mais e mais a cada ano, tanto que precisou sair das imediações da paróquia e hoje está no Largo da Feira, que também já está ficando pequeno para receber tanta gente, porque a devoção ao Espírito Santo é muito forte na Cidade. Conseguimos resgatar rituais importantes como as alvoradas e a Entrada dos Palmitos, a cada ano estamos aprimorando, trazendo novidades à festa e atraindo mais gente à paróquia porque o objetivo é a evangelização e acredito que até através das festas religiosas podemos tocar o coração das pessoas que estão afastadas e aproximá-las da igreja e da comunidade. Isso acontece também com o próprio trabalho nas barracas da quermesse, que sempre traz mais pessoas para a paróquia.
E a Festa de Nossa Senhora Aparecida?
Nossa Senhora e São Roque são padroeiros da paróquia. No ano passado criamos a quermesse da Festa de Nossa Senhora Aparecida, colocamos barracas na Rua Dr. Deodato Wertheimer, tivemos uma boa participação e deu muito certo, por isso vamos repetir em 2017. Há também tradições que conseguimos manter, como a montagem do tapete ornamental de Corpus Christi, a encenação da Paixão de Cristo, apresentada por um grupo de jovens, que já acontece há 23 anos na noite de Sexta-Feira Santa e neste ano foi na quadra da escola de samba Brazcubão (Estação Primeira de Braz Cubas).
Hoje a Igreja Católica comemora a Páscoa. Qual a importância da data na vida das pessoas?
A Páscoa é a maior festa do calendário cristão porque celebra a paixão, morte e ressurreição de Jesus, quando ele vence a morte e ressuscita. Esta passagem da morte para a vida é um momento muito forte da nossa fé, mostrando que nem tudo termina na cruz porque Cristo ressuscita no terceiro dia e toca o coração das pessoas. Até a sexta-feira é aquele sofrimento, mas depois surge a esperança porque ele sai do túmulo vivo. Além disso, há outros símbolos, como o ovo da Páscoa, que não tem vida, mas de repente, dali ela surge; e o coelho, que é um animal fértil e garante a multiplicação da vida, do anúncio do Senhor. A cruz foi uma passagem de Jesus, assim como as pessoas enfrentam situações difíceis, mas há sempre a esperança e como Cristo sai vencedor, nós também somos vencedores. A grande lição que a Páscoa sempre deixa é este convite à reflexão sobre a vida nova em Cristo.
Na eleição de outubro do ano passado, o senhor quase saiu candidato. Há possibilidade de ingresso na política?
Gosto de política, leio jornais e revistas e assisto aos telejornais para acompanhar o que acontece no País e no mundo, até para poder comentar isso nas missas, associando estes assuntos às pregações para atualização da palavra. A política não pode ser algo estranho e nem assustador às pessoas. É preciso ter conhecimento. E assim como os líderes de bairro se tornam populares, os padres também têm grande envolvimento na comunidade, conhecem muita gente, então são comuns os convites para ingresso na vida política. No ano passado fui sondado por vários grupos políticos, mas acho que esta ainda é uma missão para os leigos e os padres só devem entrar nesta área em último caso, se houver necessidade e com consentimento do bispo. Se isso no futuro for uma missão, irei assumi-la, mas no momento não existe esta necessidade.
Quando não está trabalhando, o que o senhor gosta de fazer?
Gosto muito de viajar, de ir para a praia ou algum sítio, assim como para Campos do Jordão. Também estou sempre em Aparecida, onde mora minha mãe, e quando posso vou para minha cidade, em Minas, que fica a 500 quilômetros de Mogi, onde tenho familiares. Adoro ler jornais, revistas e livros e também de pescar, mas faz tempo que não vou a uma pescaria. Outra distração é fazer caminhada para manter a saúde em dia e assistir a jogos de futebol. Já joguei bastante bola, principalmente nos tempos do seminário, mas hoje não dá mais tempo. Sempre ia aos estádios no Rio de Janeiro e hoje acompanho as partidas pela televisão. Em Minas torço para o Cruzeiro e em São Paulo sou palmeirense.