Diário Logo

Estado investe R$ 41 milhões na Mogi-Dutra antes de entregar para a iniciativa privada

Incluída na concessão do Lote Litoral Paulista, a rodovia deve contar com pedágios; lideranças da cidade e região repudiam o projeto do Governo

3 de fevereiro de 2024

Obras na Mogi-Dutra antes da concessão

Reportagem de: O Diário

O Governo do Estado investe R$ 41 milhões em obras de conservação da rodovia Mogi-Dutra (SP-88) às vésperas da via ser concedida à iniciativa privada. A estrada, que deverá contar com pedágios nos dois sentidos previstos no projeto de concessão, passa por restauração do pavimento em uma extensão de 8 quilômetros desde outubro do ano passado.

Os trabalhos, com previsão de término em 12 meses, causam congestionamentos diários, principalmente nos horários de maior movimentação de veículos, como o início da manhã e final de tarde, quando milhares de pessoas utilizam o acesso para ida e volta ao trabalho, estudos e demais compromissos, principalmente na capital paulista. Para isso, os moradores de Mogi relatam que precisam sair de casa pelo menos uma hora antes do habitual para pegar a estrada e evitar atrasos.

Muitos usuários da via questionam o motivo da realização da obra, bancada pelo Governo do Estado, pouco antes de entregá-la à iniciativa privada, já que no edital da licitação para concessão da via, lançado em dezembro de 2023, estão previstos investimentos de R$ 4,2 bilhões nas estradas incluídas no Lote Litoral Paulista, como é o caso da Mogi-Dutra, para ampliação, operação, manutenção e melhorias necessárias para a exploração do sistema rodoviário. Vale lembrar que a concessão terá validade de 30 anos.

Questionado pela reportagem sobre a execução dos trabalhos na via às vésperas da concessão, o DER não responde a esta pergunta. Em nota, o Departamento diz que “investe R$ 41 milhões na conservação especial da rodovia Pedro Eroles (SP-88), a Mogi-Dutra, que recebe obras de restauração do pavimento, em uma extensão de 8,860 km, visando mais conforto e segurança no tráfego de veículos”. “São executados serviços de fresagem, recomposição, reparos profundos no pavimento e reabilitação da sinalização, contemplando o trecho do km 40+640 ao km 49+500 (entre a rodovia Ayrton Senna e Mogi das Cruzes)”, trouxe a nota.

Já sobre os constantes congestionamentos na estrada, causados pelos trabalhos, o DER explica que “para garantir a segurança dos usuários e dos trabalhadores, a programação de obras prevê bloqueio de faixas”. “A obra está devidamente sinalizada conforme as normas estabelecidas”, conclui.

Um dos mogianos que enfrentou o congestionamento na Mogi-Dutra para se locomover à capital paulista, na semana passada, é o prefeito Caio Cunha (Podemos). “A Mogi-Dutra está passando por obras de recuperação do pavimento e da sinalização.

Obviamente que isso é algo bom, mas pela natureza menos complexa do serviço, poderia ser feito em horários de menor tráfego de veículos. Essas intervenções não estão sendo realizadas pela Prefeitura de Mogi, mas sim pelo Governo do Estado, por meio do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Ontem (24/01) eu passei por lá, a caminho de São Paulo, e gravei esse vídeo para dizer que temos insistido constantemente junto ao DER para que as obras sejam feitas em horários alternativos. Dessa forma, o impacto será mínimo ao mogiano e à mogiana. Vamos continuar insistindo até que o DER se sensibilize e passe a definir um período mais sensato para realização das obras”, postou o prefeito nas redes sociais.

A publicação gerou reações de motoristas lembrando que o mesmo pedido para realização de obra em horários alternativos foi feito por comerciantes à Prefeitura, no caso da pavimentação da avenida Voluntário Fernando Pinheiro Franco, no centro de Mogi, e negado. A justificativa é de que os trabalhos exigem escavações, que não seriam seguras à noite, segundo a administração. 

A Coordenadoria de Comunicação informou, por meio de nota, que a Prefeitura acompanha, desde o início, o cronograma e execução dos trabalhos para melhorias da infraestrutura viária na rodovia Mogi-Dutra. “Representantes da Prefeitura e do Governo do Estado participaram de diversas reuniões, nas quais foi reforçado o pedido para a realização das obras em horários alternativos, a fim de minimizar os impactos no trânsito da cidade. O mesmo pedido foi reforçado por meio de ofício, na semana passada, a pedido do prefeito Caio Cunha”, confirmou.

Motoristas questionam investimentos

Desde outubro do ano passado, quando tiveram início as obras de restauração do pavimento da Mogi-Dutra, motoristas que utilizam a via como principal acesso à capital paulista, região do Vale do Paraíba e até mesmo Rio de Janeiro enfrentam lentidão e congestionamentos, principalmente nos horários de pico. Para não perderem a hora em compromissos, como estudos, trabalho, consultas médicas e outros, eles precisam antecipar a saída de casa em pelo menos uma hora.

“Todos os dias têm trânsito muito lento e, em alguns períodos, parado na estrada. Basta ver as postagens feitas nas redes sociais por pessoas indignadas com a situação que já acontece há três meses e com previsão de durar, ao todo, por um ano. Para não chegar atrasado no trabalho, em São Paulo, preciso sair de Mogi uma hora antes do normal, porque perco este tempo para passar pelo trecho da obra”, conta o engenheiro Carlos Roberto Andrade, que mora no condomínio Aruã e trabalha na capital.

A mesma rotina é conhecida da professora Cristina Souza Alves, que também mora no Aruã e precisou reprogramar seus horários para levar os filhos à escola e seguir ao trabalho diariamente. “Antes, acordávamos às 5 horas e saíamos de casa às 6h para chegar às 7h, com folga, no centro de Mogi. Depois que a obra começou, tivemos que acordar às 4h para sairmos de casa às 5h, porque ficamos uma hora na estrada. Agora, os trabalhos já estão no sentido contrário, mas durante os dois últimos meses de aulas de 2023 enfrentamos mais de uma hora parados na rodovia”, conta.

Já o comerciante Antônio Cavalcanti questiona a real necessidade da obra na estrada que muito em breve será concedida à iniciativa privada. “Não consigo entender o motivo da Mogi-Dutra receber esta pavimentação agora. O asfalto não está ruim e não precisa desta recuperação. E a licitação acabou de ser aberta para escolha da empresa que ficará responsável pela rodovia e terá obrigação de fazer esta manutenção. Não faz sentido o Estado bancar esta obra. A não ser que queira justificar a implantação do futuro pedágio aos usuários. É muito dinheiro jogado fora mesmo”, enfatiza.

Quem também está estranhando a realização da obra antes da implantação da cobrança na via é a enfermeira Ana Carolina Santana. “Querem cobrir um santo e descobrir o outro. Se pensam que com isso vamos aceitar mais fácil o pedágio, estão enganados”, contesta. (C.O.)

Veja Também