Vereador do PL fala em ‘dissipar’ ocupação da Vila São Francisco e discute com petista
Uso do termo "dissipar" gerou um debate no plenário; Lintz, autor da proposta, acabou solicitando a retirada da indicação depois das críticas
20/02/2025 13h34, Atualizado há 6 meses

Ideia de "dissipar" a ocupação foi considerada higienista pelo vereador do PT | Divulgação/PMMC
O plenário da Câmara de Mogi das Cruzes voltou a ser palco de tensão entre os vereadores, em especial entre Iduigues Martins (PT) e Felipe Lintz (PL). Na sessão desta terça-feira (19), o tema de discussão dos parlamentares foi uma indicação do liberal que falava em “dissipar” a ocupação na Vila São Francisco. O termo desagradou o petista, que criticou o texto, e um bate-boca se instaurou na Casa de Leis sobre a expressão usada por Lintz.
O assunto começou com a apresentação da Indicação nº 216/2025, assinada por Lintz. Nela, o vereador pedia por “medidas urgentes para dissipar a ocupação na Vila São Francisco”. Segundo o vereador, o assentamento estaria prejudicando a qualidade de vida de moradores da região, além de oferecer riscos à Saúde e à Segurança.
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“Famílias inteiras estão sendo obrigadas a respirar fumaça tóxica, crianças sem conseguir dormir por causa do barulho e idosos acuados dentro de suas próprias casas e ninguém faz absolutamente nada”, disse Lintz, ao usar o plenário. O vereador chegou, ainda, a questionar se não haveria algum mentor ou movimento por trás da “invasão”.
Entretanto, a fala não passou batida. Na sequência, a vereadora Inês Paz (PSOL) usou o plenário e criticou a abordagem sugerida. “É um absurdo falar em ‘dissipar’. […] Tem um processo educativo lá, com os moradores, porque eles são seres humanos e, se eles estão lá na ocupação, é porque não tem uma política habitacional na nossa cidade”, disse a vereadora.
“A gente não pode achar que é normal ter essas ocupações. […] A moradia digna é, sim, um direito do cidadão, mas a gente precisa ter programas, um plano de habitação para a nossa cidade, e não regularizar áreas de ocupações irregulares, que é o caso”, comentou a vereadora Malu Fernandes (PL), sobre o tema.
Outro vereador a falar sobre o assunto foi o vereador Iduigues. Na tribuna, o vereador relembrou o histórico da ocupação e disse que ela se instalou em uma área cedida pela prefeitura à um empresário que abandonou o espaço.
“Usar a palavra ‘dissipar’, dissipar é fazer desaparecer, é acabar, é uma palavra higienista de um problema social. […] Agora vem aqui e fala em ‘dissipar’, em eliminar, como se a minha vontade ideológica fosse passar por cima de um problema social. Não é assim que se faz”, criticou Iduigues.
Após a fala do vereador do PT, Lintz pediu para usar a tribuna por questão de ordem. Na sua segunda fala, o liberal rebateu as críticas sobre o uso da palavra “dissipar” e acabou discutindo com o petista. O presidente da Casa, o vereador Farofa (PL) precisou interromper a discussão e entendeu que Lintz não estava usando o espaço da fala corretamente.
Na sequência, Farofa passou a palavra para Otto Rezende (PSD). Na tribuna, Otto disse que não assinaria a indicação por conta do termo usado por Lintz.
“Eu estou vendo que o senhor [Felipe Lintz] está explicando, e com toda razão, que não é bem essa a palavra que o senhor quis colocar, mas o dicionário nos mostra que, aparentemente, que essa é a palavra que nós entendemos. É uma invasão, mas aconteceu e está na Justiça. Quando nós vamos votar e nos encontramos com uma palavra dessa, infelizmente eu, o meu partido, vou ter que votar contra. Nenhuma cidade quer uma invasão, o problema aqui é a palavra que foi usada”, explicou Otto, na tribuna.
O vereador Rodrigo Romão (PCdoB) também falou durante a sessão e foi mais um a criticar o termo usado por Lintz. “Quando falam em ‘dissipar’ o que eu entendo é passar o trator. Ali tem seres humanos, têm famílias. [,,,] É muito fácil para quem está no ar condicionado pedir para ‘dissipar’ aquelas famílias”, disse o vereador.
Por fim, a discussão também foi comentada pelo presidente da Câmara. Em sua fala, Farofa disse que é necessário haver um “consenso das duas partes” para resolver o problema.
“Todos tem que ter direito à moradia, todos sabem disso e eu entendo bem isso, […] mas a gente tem que ter coerência. Não podemos defender uma situação de invasão na cidade. É isso que essa casa tem que discutir”, enfatizou o presidente.
Diante da manifestação dos demais vereadores – apesar de ter dito que iria manter o texto, durante a discussão com Iduigues – Lintz decidiu recuar e solicitou a retirada da indicação da pauta do dia.