Com manifestantes no plenário, Lintz se desculpa e Inês pede adoção de medidas disciplinares
Na semana passada, Lintz chamou Inês de analfabeta durante a declaração de voto; caso está sob análise da Comissão de Ética
16/09/2025 21h43, Atualizado há 4 horas

Felipe Lintz (PL) e Inês Paz (PSOL) | Divulgação/CMMC
Ao final da sessão ordinária desta terça-feira (16), o vereador Felipe Lintz (PL), ao falar em explicação pessoal, se desculpou, novamente, por ter chamado a vereadora Inês Paz (PSOL) de “analfabeta” durante a sessão de quarta-feira (10) da semana passada. Também em explicação pessoal, Inês reforçou que trabalhará pela adoção de medidas disciplinares (leia mais abaixo).
Assista aos pronunciamentos:
As falas aconteceram diante de manifestantes, que acompanharam a sessão ordinária em um ato de solidariedade à Inês. O ato, que foi convocado pelas redes sociais, reuniu integrantes da Subsede da Apeoesp de Mogi das Cruzes, do Fórum Mogiano LGBT+, do Diretório Municipal do PSOL, entre outros.
Lintz iniciou sua fala reconhecendo que “ultrapassou os limites do debate político” durante a sessão da semana passada. O vereador disse que se referiu de forma inadequada à colega de tribuna durante um momento de exaltação e que chegou, inclusive, a se desculpar pessoalmente com Inês e outros vereadores pelo episódio.
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“Estendo também esse pedido aos demais vereadores, que também ficaram em uma situação desconfortável devido ao ‘destempero’ da minha parte”, complementou Lintz.
O vereador, entretanto, negou que o episódio tenha se tratado de um episódio de violência política de gênero. Lintz ressaltou que ter chamado Inês de analfabeta foi “um deslize, um erro, mas de natureza política“.
“O que não me agradou nem um pouco foi o fato da vereador Inês Paz, do PSOL, dizer que eu cometi – uma acusação gravíssima – uma violência de gênero, uma misoginia, um machismo.”
Neste momento, Lintz interrompeu a sua fala por conta da manifestação do público nas galerias. Uma das representantes, inclusive, chegou a retrucar o vereador dizendo “você é machista, sim, aceita“. As falas foram rapidamente contidas pelo presidente da Casa, o vereador Farofa (PL), que pediu respeito ao regimento interno antes de devolver a palavra a Lintz.
Ao retomar seu discurso, Lintz disse que as acusações foram graves e que feriram a sua imagem. Segundo ele, ele não se dirigiu à Inês como “analfabeta” pelo fato dela ser mulher, ressaltando que poderia, “por uma infelicidade”, ter direcionado o insulto a um vereador homem.
“Reduzir essa discussão a um caso de violência contra a mulher é, no mínimo, desproporcional e pode acabar transformando uma luta tão legítima, de tantas mulheres que sofrem violência real e brutal todos os dias, em uma causa distorcida e desrespeita àquelas que buscam ter o seu direito preservado.”
Lintz concluiu dizendo que reconhece o erro e que segue dedicado às causas de Mogi das Cruzes.
Inês pede medidas adequadas
Na sequência, foi a vez da vereadora Inês usar a tribuna. Segunda inscrita para falar em explicação pessoal, a parlamentar começou agradecendo pelo apoio recebido desde a sessão de quarta-feira passada até agora.

Depois, Inês afirmou que não seria possível aceitar o fato como um acidente e que o episódio se tratou de um “crime.”
“O vereador falou a respeito, mas nós, mulheres, não podemos aceitar que fale que foi um equívoco ou um deslize. O que aconteceu aqui foi um crime, sim, e que é pautado em lei, da política contra a violência de gênero. Quando tem uma ação, uma conduta, que desmoralize, que cause sofrimento físico ou psicológico, é crime. […] Então, pedir desculpas não vai acobertar o que foi dito.”
Inês citou que o episódio se assemelha à ocorrências de violência doméstica, fazendo uma alusão a casos onde o agressor tenta fazer as pazes com a vítima antes de reincidir nas agressões. A vereadora também citou como exemplo o caso da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, também vítima de violência política de gênero, segundo Inês. “Precisamos de paz e precisamos de harmonia“, ressaltou.
A vereadora, então, disse que os valores citados eram necessários, principalmente, dentro do parlamento. Inês citou que era necessário que os vereadores soubessem receber críticas e ouvir o povo, “saber dialogar e não agredir“.
“Nós estamos vendo, gradativamente, a postura desse vereador [Felipe Lintz] há algum tempo. Ele fez um desrespeito no corredor do plenário ao vereador Iduigues (PT), fez um bate-boca com o vereador Rodrigo Romão (PCdoB), ele agrediu a população na terça-feira (9). […] Um vereador ou uma vereadora não tem que ficar aqui, da tribuna, batendo boca, que é o que ele fez.”
Inês ainda disse que, em sua avaliação, essas ações trazem um “posicionamento político que ataca as pessoas em situação de rua, a comunidade LGBTQIA+ e que ataca as mulheres“. Por fim, Inês conclui dizendo que irá solicitar pela adoção das medidas disciplinares contra Lintz.
Relembre o caso
Na semana passada, durante a sessão de quarta-feira, Lintz apresentou outra moção de repúdio contra pessoas em situação de rua que teriam recusado o atendimento médico e de profissionais da Assistência Social.
O texto foi criticado por outros vereadores e Lintz acabou retirando a moção, mas afirmou que reapresentará o trabalho posteriormente. Entretanto, ao retornar à tribuna, Lintz criticou a opinião dos colegas, alegando que a interpretação do texto estava distorcida, e acabou chamando a vereadora Inês Paz (PSOL) de “analfabeta”. Veja:
Por conta disso e do bate-boca entre o vereador e manifestantes na terça-feira (9), a Câmara solicitou que a conduta do vereador passasse por uma análise da Comissão de Ética. As punições, se consideradas necessárias pelos integrantes da comissão, podem ir desde advertências até a cassação do mandato de Lintz.