Da Primavera Árabe à renúncia de Bashar al-Assad: entenda o conflito na Síria
Quase 14 anos depois do início do conflito armado, a Síria pode estar diante de uma resolução da disputa de poder

Tomada de Aleppo, neste fim de semana, reacendeu o conflito na Síria | Syrian Arab News Agency (SANA)
Reportagem de: Fabricio Mello
Após a tomada do controle da capital síria por rebeldes e da renúncia do presidente Bashar al-Assad na noite deste domingo (8), o conflito na Síria parece caminhar para uma resolução depois de quase 14 anos de guerra, deixando mais de 300 mil mortos e milhões de refugiados.
Para entender as raízes da guerra que atinge o país, é necessário voltar alguns anos no passado, para 2011, no auge da Primavera Árabe.
- Clique e receba notícias de O Diário por WhatsApp.
- Inscreva-se e acesse conteúdos de O Diário no YouTube.
Quando começou
Na época, milhares de manifestantes foram às ruas para pedir a deposição do autoritário Bashar al-Assad.
O movimento pró-democracia, entretanto, foi recebido pelo governo com força letal. A resposta de al-Assad às demandas da população foi a violência, que tentava esmagar e suprimir o movimento pró-democracia.
Essa reação do governo sírio acabou alimentando uma oposição, que se formava em pequenos grupos milicianos e desertores do exército que não concordavam com a postura do então presidente.
Na época, faltava união aos grupos que se opunham ao regime de al-Assad, apesar do objetivo em comum que possuíam. Mesmo assim, esses grupos começaram a ser apoiados por forças de fora do país, como a Turquia, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e os Estados Unidos.
Em resposta à presença e “reforço” estrangeiro, a Síria passou a contar com a ajuda de seus aliados, Irã e Rússia, para responder aos ataques.
A presença dessas potências levou a uma escalada ainda maior nos patamares dos conflitos, atraindo a atenção, inclusive, de grupos extremistas como a Al Qaeda, que passaram a apoiar alguns dos grupos de oposição.
Extremistas ganham força
Três anos depois do início do conflito armado, em 2014, os extremistas dominaram a Síria e o Estado Islâmico ganhou força dentro do país.
Temendo que o país se tornasse um ponto interminável de conflito, um grupo de países – sob a liderança dos Estados Unidos – decidiu intervir na disputa, mirando acabar com o grupo extremista. Isso, entretanto, aconteceu sem confrontar o regime sírio, ainda comandado por al-Assad, e que era o objetivo dos extremistas.
Foi, então, que um grupo de combatentes nomeado “Forças Democráticas Sírias”, em parceria com o governo americano e com a coalizão internacional liderada por ele, lutou contra o Estado Islâmico.
Cessar-fogo internacional
Como resultado deste novo embate, o grupo extremista perdeu força dentro do território da Síria.
O conflito começou a “esfriar” ainda mais quando, em 2020, a Rússia e a Turquia decidiram por um acordo de cessar-fogo na província de Idlib, que era controlada pela oposição ao governo de al-Assad.
Lá, um corredor de segurança, para que os refugiados da guerra pudessem deixar o país, foi formado. Desde então, nenhum grande conflito havia sido registrado na Síria, mas o governo de al-Assad nunca recuperou todo o seu território, assim como a resistência armada da oposição nunca foi completamente dissolvida.
Rebeldes tomam Aleppo
Apesar de ter estado fora dos holofotes desde então, o conflito na Síria ganhou um novo capítulo neste fim de semana, quando grupos rebeldes tomaram o controle de Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, com mais de 2 milhões de habitantes.
A tomada do controle foi respondida pelo governo sírio com bombardeios em Idlib, mas a reação não foi o bastante para controlar os grupos rebeldes. Depois de Aleppo, os grupos de oposição avançaram para Homs e, em seguida, para a capital Damasco.
Se vendo “encurralado”, o agora ex-presidente al-Assad deixou o país – viajando com sua família para Moscou, onde recebeu asilo político – e renunciou ao cargo. Segundo agências de notícias internacionais e estatais, al-Assad teria instruído líderes de seu governo a transferir o poder de forma pacífica.
A saída de al-Assad do poder é vista, pela comunidade internacional, como um possível desfecho para os mais de 14 anos de conflito na Síria. Entretanto, diversos países, incluindo o Brasil, já instruíram que suas populações deixem o país, temendo a escalada de um novo conflito em meio à tensão.
*Com informações da CNN e da Agência Brasil