Henrique Borenstein e Tuta: negociações imobiliárias nada fáceis
O megaempresário Henrique Borenstein e o professor universitário José Carlos Miller da Silveira, o Tuta, eram amigos de muito tempo. Afinal, conviveram na Mogi das Cruzes de décadas atrás, acompanhando e participando, cada qual a seu modo, do crescimento da cidade, cujos personagens do passado ambos conheciam como poucos, assim como as histórias por eles […]
Reportagem de: O Diário
O megaempresário Henrique Borenstein e o professor universitário José Carlos Miller da Silveira, o Tuta, eram amigos de muito tempo. Afinal, conviveram na Mogi das Cruzes de décadas atrás, acompanhando e participando, cada qual a seu modo, do crescimento da cidade, cujos personagens do passado ambos conheciam como poucos, assim como as histórias por eles protagonizadas. Ambos com invejáveis memórias e um jeito especial de contá-las.
Ao lembrar seus causos, Tuta costumava apontar a árvore genealógica de cada pessoa citada. Era o fulano, filho e sicrano e neto de beltrano, fazia questão de dizer, colocando à prova sua verdadeira “memória de elefante”. HB não ficava atrás.
Mas o tempo passou e os nossos dois personagens acabaram envolvidos por um negócio imobiliário, que Tuta fazia questão de detalhar, sempre que o assunto era lembrado.
HB, que iniciou sua carreira em banco e numa financeira, se tornou grande incorporador, responsável por inúmeros edifícios erguidos na cidade.
Tuta, após uma carreira vitoriosa como desportista na área do basquete e professor universitário, aposentou-se e passou a investir suas economias em imóveis.
E foi assim que ele adquiriu, de uma terceira pessoa, um apartamento localizado por volta do décimo andar de um prédio que HB construíra. O imóvel estava financiado e Tuta foi procurar o empresário em busca de um bom desconto para quitar o apartamento de uma só vez e ficar livre das prestações. HB lhe prometeu um bom negócio e lá se foi Tuta bater à porta do amigo de longa data.
Mas para sua surpresa, na mesa de negociações, o amigo jogava pesado e lhe ofereceu um desconto ínfimo. Tuta reclamou:
“Mas só isso, eu venho aqui querendo pagar e você só me oferece esse descontinho?”
Ao que HB lhe respondeu:
“Você quer pagar, mas eu não estou interessado em receber!”.
E a negociação continuou com HB jogando firme diante as reclamações de Tuta, que logo desistiu do pagamento à vista.
Quando já estava de saída, HB lhe propôs a troca do apartamento lá de cima por um térreo, com a direito a desconto.
Tuta chiou: “Mas no térreo, Henrique?”
E o empresário:
“Tuta, você já está no fim da vida. Imagine se você morre lá em cima, o trabalho que vai dar para descer com o corpo? No térreo tudo fica mais fácil…”
A amizade entre ambos permitia o sonoro palavrão de Tuta, que ainda questionou:
“E a minha vista para a Serra do Itapeti. Do térreo, não vou ver nada!”
E HB, ainda mais cético:
“Tuta, essa história de vista para a Serra é conversa. Quando foi que eu vi você ou outra pessoa sentada na varanda admirando a Serra?”
Ao ver que era impossível convencer o seu negociador, Tuta contava que jogou a toalha e foi embora.
Mera retórica. Depois de tudo isso, os dois se acertaram e o negócio acabou sendo concretizado, com vantagens para os dois lados.
Pegadinha brasiliense
Impressionado com a simbologia que a arquitetura de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa trouxe para prédios de Brasília, o deputado mogiano, Marco Bertaiolli, acabou indo visitar o Palácio das Cascatas, sede do Ministério da Justiça, onde três de quatro condutores de concreto despejam água sobre uma lâmina existente diante do prédio.
Tudo para aplacar a secura do clima de Brasília.
À saída da visita, o chefe de gabinete do ministro o acompanhou até a rampa de acesso ao prédio.
E ao ver o interesse do mogiano pelas quatro canaletas condutoras da água, o assessor perguntou:
“Você sabe por que só três jogam água, menos esta que está sobre a rampa?”
Bertaiolli imaginou se tratar de algo especial da arquitetura, mas o assessor lhe explicou, rápido:
“Porque senão molharia quem estivesse passando”.
Era pegadinha brasiliense.
Perspectivas difíceis
Quais as perspectivas que se apresentam ao Brasil em um contexto de crise? Confesso que não sei responder, diz o consultor Gaudêncio Torquato, que emenda:
“Uma historinha contada pelo amigo Sebastião Nery pode ajudar a responder.
Luís Pereira, pintor de parede, dormiu com 200 votos e acordou como deputado Federal.
Era suplente de Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, em Pernambuco, cassado pela ditadura.
Chegou a Brasília de roupa nova e coração vibrando de alegria.
Murilo Mello Filho, da revista Manchete, melou o jogo, logo no aeroporto, com a pergunta abrupta:
‘Deputado, como vai a situação?’
Confuso, nervoso, surpreso, sem saber o que dizer, jogou os termos que julgava mais apropriados para a fala de um deputado:
‘As perspectivas são piores do que as características’.
A esta altura, tem muito Luís Pereira perorando por aí…” – garante Torquato.
Casa do Advogado fora da lei
A Casa do Advogado, que hoje é referência para a categoria, ao lado do Fórum principal de Mogi das Cruzes, no Centro Cívico, já foi o centro de uma grande polêmica na cidade.
Em meio a substituições de projetos por diferentes dirigentes da entidade, a construção acabou avançando 3m66 sobre o alinhamento da calçada da avenida Cândido Xavier de Almeida e Souza.
Foi o que bastou para que o prefeito da época, Waldemar Costa Filho, encrenqueiro como poucos, não concedesse o “habite-se” para a obra, considerando sua ilegalidade.
A chiadeira foi geral, mas a Casa permaneceu embargada por um bom tempo, até que um acordo com o novo prefeito permitiu sua utilização.