Lideranças do comércio, indústria e agricultura apontam reflexos do pedágio na economia
A retomada dos estudos para cobrança de motoristas que circulam pelas rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga, principais vias de acesso da cidade à capital paulista, Aeroporto Internacional de Guarulhos, região do Vale do Paraíba, litoral e Porto de Santos, gera preocupação entre lideranças da agricultura, comércio e indústria de Mogi das Cruzes. Representantes do Sindicato Rural, […]
Reportagem de: O Diário
A retomada dos estudos para cobrança de motoristas que circulam pelas rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga, principais vias de acesso da cidade à capital paulista, Aeroporto Internacional de Guarulhos, região do Vale do Paraíba, litoral e Porto de Santos, gera preocupação entre lideranças da agricultura, comércio e indústria de Mogi das Cruzes.
Representantes do Sindicato Rural, Associação Comercial (ACMC) e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) – Alto Tietê apontam os diversos reflexos que a despesa diária, mesmo que cobrada no sistema free flow – como é a atual proposta do governo estadual – pode acarretar na economia da cidade e de toda a região.
O diretor regional do Ciesp Alto Tietê, José Francisco da Silva Caseiro, destaca que a região é um dos principais polos industriais do Estado de São Paulo, com mais de 2 mil empresas, e as rodovias são rotas de escoamento de produtos de Mogi e de todas as cidades vizinhas para a Capital, Vale do Paraíba e Litoral.
“A cobrança de pedágio, seja qual for a modalidade, terá uma forte consequência no valor do frete, no custo da produção industrial e nos níveis de investimentos das empresas. Além disso, ao lado da rodovia Mogi-Dutra fica o distrito do Taboão, que abriga a maior Zona Predominantemente Industrial da Região Metropolitana, o que afugenta a vinda de novas indústrias e inibe a ampliação das existentes”, considera Caseiro.
O empresário também lembra que todos já acreditavam que pedágio nestas rodovias era um assunto superado após a grande mobilização regional. “E, agora, diante dos planos de reindustrialização anunciados para o Estado, mais do que nunca o Governo deve desconsiderar qualquer possibilidade de retomar isso”, reforça.
A avaliação é compartilhada pela presidente da ACMC, Fádua Sleiman. Ela destaca que a Associação Comercial de Mogi das Cruzes se colocou contra a instalação de pedágios nas rodovias mogianas desde que o assunto veio à tona, ainda em 2019.
“O anúncio da desistência do governo estadual em implantar a cobrança significou uma vitória conquistada em dezembro de 2021, por meio da mobilização de diversas entidades, de autoridades e dos mogianos, já que a medida traria uma série de impactos negativos para o comércio e economia mogiana”, enfatiza Fádua.
Ela reforça que espera que lideranças dos mais diversos setores, políticos e a sociedade civil não tenham que lutar novamente por conta da ameaça desta cobrança nas estradas.
“A instalação de qualquer sistema de pedágio terá um forte efeito negativo para o comércio, que é hoje um dos principais geradores de empregos e impostos. No entanto, se necessário for a Associação Comercial está disposta a lutar e se mobilizar contra a implantação junto ao governo estadual”, adianta a presidente da ACMC.
Retomada
A proposta de implantação de praças de pedágios nas rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga foi cancelada em dezembro de 2021, com a suspensão da concessão do Lote Litoral pelo Governo do Estado de São Paulo.
No entanto, mesmo após ter garantido em entrevistas a O Diário e à TV Diário que era contra os pedágios, durante sua campanha eleitoral, o governador Tarcísio de Freitas (REP), retomou estes estudos em janeiro de 2023 e, em abril, anunciou que pretende implantar o sistema free flow de cobrança de tarifa – correspondente à distância percorrida – nas estradas concedidas do Estado.
A Secretaria de Estado de Parcerias em Investimentos aponta que a Mogi-Dutra e a Mogi-Bertioga estão entre as rodovias que passarão por concessão pelo Programa de Parcerias em Investimentos do Estado de São Paulo (PPI-SP).
Agricultura prevê custos mais altos
Se a proposta do Governo do Estado de cobrar pela circulação nas rodovias Mogi-Dutra e Mogi-Bertioga se concretizar, o escoamento dos produtos agrícolas cultivados em Mogi das Cruzes e cidades da região, que são transportados principalmente por estas duas estradas, será prejudicado, trazendo mais ônus aos agricultores e, consequentemente, afetando também os consumidores. A previsão é do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes.
“Essas vias são as principais para o escoamento dos nossos produtos e, hoje, o produtor já tem sofrido bastante com os altos custos, sendo que o transporte é o que mais encarece a produção. Não é desmerecendo os produtos do agronegócio, mas eles já têm valores bem baixos, e a logística é uma das despesas que aumenta cada vez mais, por isso, será ainda mais complicado se tiver alguma cobrança de pedágio nestas vias”, explica Fábio Dan, presidente do sindicato.
Ainda de acordo com ele, a região tem grande representatividade no setor e a responsabilidade de alimentar quase todo o país, já que vários produtos aqui cultivados também seguem para outros estados. “Então, afeta todo mundo, desde o agricultor, até o distribuidor e, principalmente, os consumidores, porque a maioria é produto perecível e os preços são nivelados pela lei da oferta e da procura, então, quando há muita produção, o preço cai, mas se acontece algum problema climático, como muita chuva, granizo ou geada, ele acaba subindo. E é importante lembrar que a carga maior de prejuízo acaba sempre ficando com o agricultor”, detalha.
Ele conta que o Sindicato reúne cerca de 500 produtores, mas estima que Mogi e as cidades vizinhas, como Biritiba Mirim e Salesópolis, deva contar com mais de 2 mil, que fazem o transporte dos hortifrutis aqui cultivados a várias cidades do interior de São Paulo e do litoral paulista, diretamente a supermercados da Capital, e também a outros estados, mas principalmente ao Centro de Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).
“Portanto, tanto estes pedágios afetarão a rota de distribuição dos produtos daqui, principalmente das hortaliças, que são perecíveis e representam perdas maiores, já acarretando em elevação dos custos”, diz. (C.O.)