Santa Casa de Mogi tem primeira mulher no cargo de Provedora em 151 anos
Com 53 anos de atuação como voluntária da instituição, Miriam Nogueira do Valle é a nova Provedora na chapa eleita, que tem Flávio Ferreira Mattos como vice-provedor
A Santa Casa de Misericórdia de Mogi das Cruzes é uma instituição privada e sem fins lucrativos | Divulgação
Reportagem de: O Diário
Foi eleita na tarde desta quarta-feira (06/11) a chapa inscrita para a Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Mogi das Cruzes, que tem como Provedora a atual presidente da Associação de Voluntários da Santa Casa de Mogi das Cruzes (Avosc) e uma de suas fundadoras, Miriam Nogueira do Valle. Será a primeira mulher a ocupar o cargo nos 151 anos de existência da instituição. O vice-provedor será Flávio Ferreira Mattos, atual presidente do Conselho Fiscal. O mandato para o biênio 2024-2026 começará em 09 de dezembro próximo.
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A eleição do colegiado, em chapa única (veja abaixo), se deu por aclamação em assembleia da irmandade que reúne os membros da comunidade responsáveis pela supervisão do hospital, como prevê o estatuto da Santa Casa. O novo comando tem o desafio de manter o ritmo de avanços iniciado no final de 2020 (veja mais na retranca: Legado de melhoria contínua inspira novo comando da Santa Casa) pelo atual provedor José Carlos Petreca, que passará a integrar o Conselho Fiscal.
“Nossa meta é assegurar a continuidade da evolução dos serviços da Santa Casa, vencendo novos desafios para atender nossos pacientes de forma eficiente e acolhedora, ancorada em suas necessidades e seu bem-estar”, resume Miriam. “Vamos fazer isso com uma gestão moderna, ágil, transparente e de excelência, antenada com as melhores práticas e recursos profissionais”, completa Mattos.
Ambos antecipam metas da nova mesa diretiva tendo como alicerce a melhoria contínua dos serviços. A ampliação e atualização da estrutura física e operacional da Santa Casa, a modernização estrutural e funcional do Pronto-Socorro (PS) para melhor servir à Municipalidade, a implementação de novas especialidades, como cardiologia, urologia e oncologia, entre outras, figuram no topo da lista para ampliar o leque da assistência aos pacientes SUS. Também faz parte dos planos do colegiado eleito incrementar na instituição a oferta de procedimentos de hospital-dia, como pequenas cirurgias.
A expectativa de Mattos também é intensificar as ações conjuntas com a Prefeitura para sensibilizar o Estado a ajustar a oferta regional de atendimentos a pacientes SUS que dependem de especialidades indisponíveis na Santa Casa. “A dificuldade em conseguir vagas para internação gera as filas de macas no PS. Por exemplo, não temos cardiologia e recebemos pessoas que ficam nos corredores à espera de internação para tratamento cardiológico em outra unidade. Em grande parte das vezes, sai uma vaga longe, lá em Diadema. É só sofrimento para o paciente e sua família”, relata ele, ao contar ainda que o custo com ambulância para remoção fica a cargo da Santa Casa.
Semeando amor
Considerada um ícone dos princípios filantrópicos da Santa Casa, Miriam tem 77 anos de idade, sendo 53 deles dedicados à atuação como voluntária da instituição onde comparece diariamente, inclusive aos domingos e feriados, para ajudar as pessoas. “Ser voluntário é semear amor, é se colocar no lugar do próximo. É amar gente. Hoje, fala-se muito em humanização. Mas, sem a ação prática, a humanização é apenas uma palavra. Estou nessa missão desde 1971. Ser voluntária é se doar, é dar muito mais do que o tempo: é dar o melhor de si e o fazer por amor. E a Avosc é isto: amor!”, define ela que é bibliotecária aposentada, casada com Flávio Augusto do Valle, tem dois filhos, quatro netos e duas bisnetas.
Na definição do vice-provedor eleito, Miriam disponibilizará seus conhecimentos e seu olhar sensível sobre o cotidiano do hospital à gestão empreendedora da mesa diretiva. “Vamos unir o melhor da filantropia com o melhor da visão administrativa moderna”, aposta Mattos que é administrador de empresas e corretor de seguros, tem 55 anos, é casado e pai de dois filhos.
Mesa Administrativa da Santa Casa de Mogi das Cruzes – Biênio 2024-2026
Membros eleitos a serem empossados para o mandato em 09/12/24
Provedora: Miriam Nogueira do Valle
Vice-Provedor: Flávio Ferreira Mattos
1º Secretário: Marco Antonio Cipriano
2º Secretário: Eurides de Toledo
1º Tesoureiro: Fábio Ferreira Mattos
2º Tesoureiro: Márcio Gavazzi
1º Mordomo: Benedito Carlos Filho
2º Mordomo: Rogério Franco Nolasco
1º Suplente: Francisco Carlos A. Del Poente
2º Suplente: Márcio Augusto Cury Marcondes
3º Suplente: Francisco Machado Pires Junior
4º Suplente: Adamilton Andreucci
Conselho Fiscal
1º Conselheiro: Hebert Paulete Lopes
2º Conselheiro: Elias Sleiman Khouri
3º Conselheiro: José Carlos Petreca
1º Suplente: José Roberto Pereira
2º Suplente: Reginaldo Abrão
Legado de melhoria contínua inspira novo comando da Santa Casa
Ao longo dos últimos quatro anos, a Santa Casa de Misericórdia de Mogi das Cruzes passou por uma revolução física e funcional que ampliou em cerca de 30% o volume de atendimentos prestados a pacientes SUS, além de elevar a resolutividade de casos e a qualidade dos serviços a níveis nunca antes alcançados. O projeto de melhoria contínua, que mudou o perfil de unidade deficitária para entidade empreendedora, foi alinhavado no final de 2018, na gestão do saudoso provedor Austelino Pinheiro de Mattos, que tinha José Carlos Petreca como vice.
A ideia começou a ganhar corpo nos meses finais de 2020, sob a batuta de Petreca, que finaliza seu segundo mandato como provedor. Ele entrega o comando da instituição à nova Mesa Administrativa eleita, que tem à frente a provedora Miriam Nogueira do Valle e a missão de prosseguir com os múltiplos avanços, vitais para a população de Mogi das Cruzes e demais cidades do Alto Tietê.
O cenário atual pareceria utopia naquela época. A Santa Casa amargava um deficit mensal de R$ 2,5 milhões, agravados pela defasagem de duas décadas da tabela SUS (que remunera os serviços prestados aos pacientes da saúde pública), e uma dívida acumulada de cerca de R$ 20 milhões, além dos colossais atrasos nos pagamentos de médicos e fornecedores, como relata o tesoureiro Fábio Ferreira Mattos, que participou de todo o processo e permanecerá na função com a nova mesa diretiva. Ele é administrador de empresas, pós-graduado em Administração Hospitalar e em Auditoria Hospitalar.
Fato é que ao longo destes quatro anos, a Santa Casa de Mogi seguiu a firme trajetória da sustentabilidade. As contas ganharam o sonhado equilíbrio, sem o drama do deficit mensal, a dívida gigantesca não existe mais e os atrasos de pagamentos são pesadelo do passado. “Fecharemos 2024 com o melhor balanço financeiro da história da Santa Casa’, crava Fábio Mattos.
A gestão profissional e moderna garantiu à Santa Casa a geração de receita com o atendimento a convênios e pacientes particulares. Com as contas saneadas, foi possível ampliar e modernizar as instalações, adquirir equipamentos para prestar serviços antes terceirizados, reformular o corpo clínico, criar um capital de giro e um fundo de reserva, além do principal: a otimização de todos os serviços e o aumento do número de atendimentos clínicos e cirúrgicos pelo SUS.
“Incorporando o conceito empresarial, deixamos de ser meros pedintes de recursos dos entes federativos, sem solução definitiva, e passamos a agir. Com a receita de particulares e convênios, financiamos os investimentos na saúde pública”, explica Petreca, ao destacar o trabalho sério, dedicado e profissional de toda a equipe, valorizando o atendimento humanizado na reformulação estrutural, qualitativa e assistencial do hospital. “Deixo o cargo de provedor com a consciência do dever cumprido. A Santa Casa nunca havia vivenciado os avanços que tem agora”, orgulha-se o engenheiro de software aposentado.
A Santa Casa de Misericórdia de Mogi das Cruzes é uma instituição privada e sem fins lucrativos, que presta serviços a entes públicos, atendendo pacientes do Alto Tietê. É referência em ortopedia, maternidade de alto risco, oftalmologia e neurologia. Tem 188 leitos. A UTI Adulto dispõe de nove leitos (oito deles para pacientes SUS) e dez leitos de UTI Infantil (nove deles para atender SUS). O Pronto-Socorro registra cerca de 14 mil atendimentos por mês, há em torno de 650 cirurgias mensais e 350 partos a cada mês, tudo para atender o público via SUS. Os esforços podem ser sintetizados num dado: 60% das internações hospitalares de Mogi das Cruzes são feitas pela Santa Casa.