Pai doa medula óssea para salvar filho de 1 ano com câncer raro
Pedro Bin Oliveira, bebê de Suzano, foi diagnosticado com leucemia mieloide aguda em janeiro, e o transplante realizado com células doadas pelo pai foi bem-sucedido
Carrossel de fotos
Pai do pequeno Pedrinho, de apenas 1 ano, foi o seu doador de medula óssea | Reprodução/Redes sociais
Reportagem de: Ana Lívia Terribille
Pedro Bin Oliveira, um bebê de apenas um ano e nove meses, morador de Suzano, é exemplo de força e superação na luta contra a Leucemia Mieloide Aguda (LMA), um tipo raro de câncer do sangue e da medula óssea em crianças. Diagnosticado em janeiro deste ano, Pedro passou por um transplante de medula óssea em julho, doada pelo próprio pai, e hoje está em fase de remissão da doença, dando início a uma nova etapa de sua vida.
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Confira agora a história do Pedrinho, uma criança que, mesmo com pouca idade, já reflete sobre a importância da coragem, da esperança e do amor em meio às adversidades
Diagnóstico e tratamento contra o câncer
Pedro foi diagnosticado com LMA em janeiro deste ano. O tratamento contra o câncer começou logo após a descoberta, com quimioterapias intensivas. Segundo Danielle Bin, mãe de Pedro, o diagnóstico foi um choque para a família. “Foi um susto muito grande, pois tudo aconteceu de forma rápida e repentina. Ele sempre teve uma saúde muito boa, mas em dezembro de 2023 começou a ficar doente com frequência”, conta.
Inicialmente, os sintomas pareciam indicar uma sinusite, já que Pedro tinha febres recorrentes todas as noites. Após consultar um otorrinolaringologista, ele foi encaminhado ao Hospital de Guarulhos, onde exames revelaram tumorações na cabeça, causadas pela leucemia. Pedro ficou nove dias na UTI enquanto a equipe médica investigava a causa da doença.
Posteriormente, ele foi transferido para o Hospital Salvalus, onde o diagnóstico de LMA foi confirmado. Esse tipo de leucemia é mais comum em adultos, tornando-se um caso raro em crianças.
Busca pelo doador de medula óssea
Em março deste ano, a história de Pedro foi noticiada pelo O Diário, durante a mobilização da família em busca de um doador compatível de medula óssea. Na época, seus pais e a irmã mais velha realizaram testes, mas as chances de compatibilidade entre familiares eram consideradas baixas.
Em abril, Pedro entrou na fila de espera por um doador no banco de dados. Durante o tratamento, ele precisou de várias bolsas de sangue e plaquetas. A possibilidade de transplante trouxe à família um misto de esperança e preocupação, como relembra Danielle. “A princípio, foi assustador. Era tudo muito novo, e temíamos o tempo necessário para encontrar um doador. Mas fomos encaminhados para a Beneficência Portuguesa, onde encontramos uma equipe maravilhosa que nos deu segurança”, diz.
Entretanto, com os avanços médicos, o transplante haploidêntico — que utiliza doadores com 50% de compatibilidade genética — tornou possível que o pai de Pedro fosse o doador. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) explica que esse método, antes inviável devido ao risco de rejeição, tornou-se mais seguro com novas tecnologias e tem resultados semelhantes aos de transplantes com 100% de compatibilidade.
Danielle diz que para o marido, saber que ia ser doador foi uma felicidade muito grande, já que eles estavam na expectativa para encontrar uma pessoa e que, logo, estava tão próxima.
“Foi uma alegria pra gente, um alivio, saber que existia essa possibilidade e sendo de pai para filho, do mesmo tipo sanguíneo, as chances eram boas, de haver a pega rápida e tudo dar certo. Então pra gente foi um alivio, e pro meu marido foi uma felicidade grande de poder ser o doador.”
Internação para o transplante
A mãe evidencia que o momento da internação para o transplante foi um momento “difícil e puxado”, já que só ela podia acompanhar o filho. Pedro ficou 28 dias internado em isolamento no hospital, saindo do quarto apenas em momentos específicos acompanhados pela fisioterapeuta.
Danielle ressalta que, durante esse período, precisou ver o Pedrinho “bem frágil”, porque ele estava recebendo quimioterapias muito fortes para preparar o corpo para receber a infusão, o que culminava em reações muito severas, como mucosite, dificuldades para se alimentar e necessidade de sonda.
Dia da ‘pega’ da medula
A infusão da medula óssea foi realizada no dia 17 de julho, e a ‘pega’ aconteceu duas semanas depois. Uma semana após o procedimento, Pedrinho começou a apresentar melhoras, despertando alegria na família.
“Foi muito doloroso, como mãe, ver o Pedro nessa situação, mas quando percebemos que a medula havia ‘pegado’, veio um grande alívio”, desabafa a mãe. A ‘pega’ da medula, quando as células doadas começam a produzir células saudáveis no corpo do paciente, ocorreu após esse período de 14 dias.
Recuperação e rotina atual
Hoje, Pedro está em casa, brincando e se desenvolvendo, mas ainda precisa de cuidados intensivos. Ele toma medicamentos imunossupressores para evitar rejeição, tem restrições de contato devido à baixa imunidade e precisará reiniciar o ciclo de vacinas.
“É uma vitória. Ele nasceu de novo. Ainda temos cuidados a tomar, mas cada dia é uma conquista”, celebra Danielle.
Fé e solidariedade
Para a mãe do pequeno Pedrinho, a fé foi essencial ao longo de todo o processo, além dela ter se transformado durante o processo. “Eu sou uma pessoa antes desse processo e outra depois. A fé fez toda a diferença. Em nenhum momento deixei de acreditar que Deus ia nos dar esse milagre”, afirma emocionada.
Ela também deixa uma mensagem para outras famílias que enfrentam desafios semelhantes.
“Não percam a fé. Na medicina, só depois de cinco anos podemos falar em cura, mas para mim, ele já está curado. E eu faço um pedido: que as pessoas se tornem doadoras de medula óssea e sangue. É um ato de generosidade que salva vidas.”